Vivências intensas estampadas em quadro estático
Renato Linhares e Ana Kutner evocam um mundo efervescente em montagem em cartaz no Oi Futuro/Flamengo (Foto: Felipe Lima)
Horses Hotel desponta em cena como o instantâneo de uma geração, como o registro emocional de um momento efervescente (a passagem dos anos 70 para os 80). O principal desafio para Alex Cassal (responsável pela dramaturgia e pela direção, tarefa dividida com Clara Kutner) parece estar na materialização do impalpável, na construção de uma atmosfera que extravase do palco para a plateia.
Para tanto, Cassal procura sintetizar um universo num espaço fechado – um quarto do decadente Horses Hotel, por onde circula uma galeria de outsiders que trava convívio intenso e desesperado. Esse ambiente tão carregado de vivências é concretizado por meio da cenografia de Guga Feijó, que “reconstitui” um caótico quarto de hotel composto por paredes formadas por um conjunto de colchões, configuração reforçada pelas tonalidades da iluminação de Renato Machado que sugerem letreiros em neon. Os figurinos de Antônio Medeiros realçam as personalidades de figuras repletas de atitudes, porta-vozes de tomadas de posição em relação ao contexto no qual estão inseridos.
Como se vê, Alex Cassal traça um desenho de mundo preciso, sublinhado por referências (não só a artistas emblemáticos como a fatos marcantes, a exemplo do surgimento da Aids, na primeira metade da década de 80). Mas Horses Hotel estampa um quadro algo estático. À medida que o espetáculo avança, as informações e os desdobramentos nos elos entre os personagens mais reiteram do que complementam o panorama ambicionado. O “tema” da ligação entre arte e vida é pouco aproveitado, assim como a interação com o público, que resulta mais numa bossa do que numa proposta consistente. Restrições à parte, os atores (Ana Kutner, especialmente expressiva no início, Emanuel Aragão e Renato Linhares) revelam vigorosa adesão ao projeto.