Uma justa homenagem para Sergio Britto
Sergio Britto em A Última Gravação de Krapp / Ato sem Palavras 1 (Foto: Guga Melgar)
O ator e diretor Sergio Britto (1923-2011) ganha justa homenagem por meio de Ocupação, no Itaú Cultural, em São Paulo, que conta com coordenação de Marília Brito, sobrinha de Sergio, curadoria de Hermes Frederico e cenografia de José Dias. O espaço reproduz uma caixa preta teatral. Na abertura, nesse sábado, 23 de novembro, haverá a exibição de um documentário de 20 minutos sobre a trajetória de Sergio Britto – evocada através da fala dele, de fotos e imagens de cena – e um encontro com a atriz Irene Ravache, dirigida por Sergio nas montagens de Os Filhos de Kennedy e Afinal, uma Mulher de Negócios, de Rainer Werner Fassbinder, esta última no Teatro dos 4. A visitação ficará à disposição do público até 19 de janeiro de 2014.
Sergio Britto integrou a maioria das iniciativas teatrais da segunda metade do século XX. Na década de 1940, começou a carreira no Teatro Universitário (TU), motivado por Jerusa Camões. Esteve no Teatro do Estudante do Brasil (TEB), conduzido por Paschoal Carlos Magno, grupo marcado por uma versão emblemática de Hamlet, de William Shakespeare, a cargo do alemão Hoffmann Harnisch, também presente na rápida experiência do Teatro dos Doze. Sergio pertenceu aos quadros das principais companhias brasileiras – as primeiras modernas – dos anos 1950: Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), fundada pelo industrial italiano Franco Zampari, Teatro Popular de Arte (TPA) / Companhia Maria Della Costa, pelo empresário Sandro Polônio, e Teatro de Arena, pelo diretor José Renato Pécora.
Liderou o projeto do Grande Teatro da TV Tupi, empreitada heroica – basta lembrar que os atores faziam peças, adaptações de filmes e livros ao vivo. O reconhecimento obtido na televisão foi relevante para a fundação – no final da década, na volta ao Rio de Janeiro – do Teatro dos Sete. Juntamente com Gianni Ratto (diretor), Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Ítalo Rossi, Luciana Petruccelli e Alfredo Souto de Almeida, Sergio deu partida aos trabalhos na companhia, pautada por um repertório que valorizava a comédia (mas sem perder de vista o rigor na escolha dos textos) e a dramaturgia brasileira. Após o fim da companhia, em 1965, continuou o vínculo profissional com Fernando Torres e Fernanda Montenegro na Torres e Britto Diversões Ltda.
No início da década de 1970, Sergio Britto implantou uma programação no Teatro Senac, revezando-se nas funções de ator e diretor. Ainda no Senac, ministrou cursos que reuniram futuros atores do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone. Conheceu um casal, Paulo Mamede e Mimina Roveda, e com eles começou a viabilizar o desejo de arrendar um teatro. Ensaiaram um princípio de parceria no Teatro Ginástico, em 1977, e se lançaram na aventura ambicionada no ano seguinte por meio do Teatro dos 4, no Shopping da Gávea (o quarto integrante da sociedade era José Ribeiro Neto, depois substituído por Dema Marques, que também acabou se desligando do projeto). No Teatro dos 4, os sócios priorizaram textos pouco difundidos no Brasil e espetáculos de porte que imprimiram um padrão de qualidade na cena brasileira dos anos 1980.
A convite de Luiz Geraldo Dolino do Nascimento, Sergio ajudou a firmar um perfil para a programação de teatro do recém-inaugurado Centro Cultural Banco do Brasil, onde privilegiou trabalhos de encenadores notadamente autorais, como Bia Lessa, o impacto do teatro engajado, de Luiz Fernando Lobo, e montagens de antigos parceiros, como Nathalia Timberg, Tônia Carrero, Paulo Autran e Jacqueline Laurence. Em 1993, Helena Severo, então Secretária Municipal de Cultura na gestão Cesar Maia, chamou-o para ocupar o Teatro Delfim, onde investiu num repertório brasileiro, com destaque para o ator negro.
Até o final da vida, Sergio Britto, que completaria 90 anos em 2013, manteve-se filiado tanto aos grandes textos – a julgar por suas atuações em Longa Jornada de um Dia Noite Adentro, de Eugene O’Neill, e As Pequenas Raposas, de Lillian Hellman, ambas produzidas por Hermes Frederico – quanto aos espetáculos mais investigativos, determinantes em sua carreira – a exemplo dos elos com Nehle Franke (em O Poder do Hábito, de Thomas Bernhard) e Isabel Cavalcanti (em A Última Gravação de Krapp/Ato sem Palavras 1, de Samuel Beckett).
carmattos
29 de novembro de 2013 @ 11:59
Gerald Thomas foi outro grande encenador projetado por Sergio na programação do CCBB no início dos anos 1990. Nunca mais aquele teatro foi tão ousado.