Uma Falecida comportada
Bianca Rinaldi e Leon Góes são Zulmira e Tuninho em A Falecida (Foto: Juliana Lago)
Moacyr Góes retorna à obra de Nelson Rodrigues, autor que visitou anteriormente nas montagens de Os Sete Gatinhos, Toda Nudez será Castigada e Bonitinha, mas Ordinária (peça que o diretor ainda transportou para o cinema). Escolheu agora outro grande texto do dramaturgo, A Falecida, centrado na manipuladora Zulmira, personagem que anseia pela morte. Nelson tece com requinte a sua tragédia de atmosfera suburbana, ocultando acontecimentos importantes revelados ao final.
Nessa encenação, Moacyr não investe propriamente numa visão autoral. Ao contrário, parece se debruçar de maneira comportada sobre a peça sem lançar uma nova perspectiva acerca do material. A Falecida que está em cartaz no Teatro Maison de France é um espetáculo correto, sem arroubos de ousadia – dado refletido, em parte, numa certa frieza manifestada em algumas atuações, especialmente a de Bianca Rinaldi.
Incumbida da protagonista, a atriz evidencia empenho, mas se mostra um tanto distante ao longo da apresentação. Leon Góes também demonstra obediência às indicações contidas no texto em relação a Tuninho. Constrói, porém, com precisão as reações do personagem diante dos demais e das situações com as quais é confrontado. Nos papéis mais circunstanciais, destaque para Daniel Carneiro, expressivo nas composições, e Augusto Garcia, habilidoso no manejo do caráter popular de Timbira.
O vigor criativo se impõe com mais força na cenografia de Teca Fichinski, composta por uma sucessão de fachadas de portas desgastadas, mesmo que o alçapão sobre o plano suspenso no qual se desenrola o espetáculo quase não seja aproveitado. As laterais do palco, onde ficam os elementos de cena dispostos de forma um pouco atabalhoada e os atores quando fora da ação, poderiam ser mais claramente “conceituadas”. Cabe mencionar o trabalho de Paulo Cesar Medeiros, que valoriza o resultado por meio de momentos de iluminação crepuscular.