Um tempo distante da contemporaneidade
MITsp – Christoph Marthaler conduz o público rumo a um outro tempo por meio de uma cenografia vintage (de Duri Bischoff) – no mobiliário e no papel de parede, com predomínio da tonalidade azul esverdeada, de um quarto de hotel – e no modo como insere a música, elemento imperante ao longo de King Size.
Suavemente entoada pelos atores – Hildergard Alex, Tora Augestad, Bendix Dethleffsen (responsável pela direção musical) e Michael von der Heide –. a música tende a suscitar nos espectadores estado de contemplação que, porém, não deve ser confundido com passividade, na medida em que a estranheza que atravessa o espetáculo coloca a plateia em permanente suspensão. A música também faz com que o público estabeleça uma conexão menos racional com a encenação.
A distância em relação à urgência da contemporaneidade vem à tona já na cena inicial do espetáculo, marcada por uma felicidade algo idealizada. Mesmo que Marthaler se afaste completamente de personagens definidos e de um encadeamento de situações, há uma impressão de ascensão social nos figurinos que sugere certa passagem de tempo.
Seja como for, o nonsense é a característica preponderante em King Size. A proposta realista é desconstruída no decorrer da apresentação por meio da utilização extracotidiana de objetos (a mulher que abre a bolsa e retira macarrão) e da ocupação do próprio espaço (pessoas que surgem de dentro de armários).
Mas a renúncia à lógica não é o único procedimento empregado para estimular a imaginação da plateia. Marthaler lembra que o realismo cenográfico não inviabiliza projeções imaginárias quando os atores se deslocam para outros ambientes insinuados por meio de recortes – suas totalidades ficam interditadas ao olhar do espectador.