Um projeto representativo da cena atual
A intensidade dos vínculos em trabalho do grupo Magiluth, de Recife (Foto: Maurício Cuca)
O público carioca foi apresentado ao trabalho do grupo Magiluth, de Recife, por meio de espetáculos rapidamente mostrados na cidade: Ato e Aquilo que meu Olhar guardou para Você, atrações da recém-encerrada edição do festival Cena Brasil Internacional. Desses dois, o segundo esteve, nos últimos finais de semana, no Espaço Furnas Cultural. Trata-se de uma montagem gestada a partir de parcerias – com a equipe do Teatro do Concreto, do Distrito Federal, e com Luiz Fernando Marques, diretor do Grupo XIX, de São Paulo, que assina a condução da encenação juntamente com o Magiluth.
Aquilo que meu Olhar guardou para Você reúne algumas características cada vez mais frequentes no teatro contemporâneo. Os atores (Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Pedro Wagner e Pedro Vilela) portam a primeira pessoa, valendo-se dos próprios nomes em cena, mesmo que o “eu” fique um tanto nebuloso (as experiências particulares relatadas servem mais a um jogo teatral do que a um teor confessional). Há um esforço em promover uma perda da hierarquia entre elenco e público (por mais que os dois grupos permaneçam inevitavelmente ocupando “lugares” distintos) evidenciada não só através de uma interação com a plateia como de um convite para que os espectadores subam ao palco no último terço da encenação. Essa fusão entre o espaço do público e o do espetáculo remete, em especial, ao trabalho de Luiz Fernando Marques com o Grupo XIX.
Outro elemento presente em Aquilo que meu Olhar guardou para Você e que pode ser detectado em montagens contemporâneas é a concepção estética propositadamente rascunhada, comprovando o caráter processual da encenação. No palco há apenas folhas indicativas da ordenação das cenas (dramaturgia de Giordano Castro), que, escritas com pilô e, às vezes, riscadas, contribuem para o visual poluído do espetáculo. A cena conta ainda com pequenas lâmpadas coloridas (iluminação de Pedro Vilela) que trazem à tona o universo popular, interiorano, que parece contrastar, em certa medida, com as referências à urbanidade do Rio de Janeiro que atravessam a montagem. Mas, apesar das citações à geografia carioca – realçadas pelas fotografias projetadas –, o foco é intimista, voltado para a intensidade dos vínculos amorosos e afetivos, das emoções externadas sem filtro intelectual. Os atores demonstram integração a uma proposta que revela mais afinidade com plataformas artísticas atuais do que exatamente originalidade. Em todo caso, Aquilo que meu Olhar guardou para Você desponta como bem-vindo cartão de visitas do Magiluth.