Um novo passo para a PeQuod
Cena de Peh Quo Deux, em cartaz no Oi Futuro/Flamengo (Foto: Simone Rodrigues)
A Cia. PeQuod é marcada pela inquietação, a julgar pela conexão com o mundo cinematográfico em Filme Noir, a aproximação entre o terreno da animação e autores da dramaturgia clássica (Gil Vicente em O Velho da Horta, William Shakespeare em A Tempestade, Henrik Ibsen em Peer Gynt) e o surpreendente elo entre o universo do escritor Hans Christian Andersen e a música de Dorival Caymmi (em Marina). Peh Quo Deux, novo espetáculo do grupo, atualmente em cartaz no Oi Futuro/Flamengo, confirma essa vocação da companhia ao reunir proposições de cinco coreógrafos (Bruno Cezario, Cristina Moura, Marcia Rubin, Paula Nestorov, Regina Miranda) tendo como base o livro Seis Propostas para o Próximo Milênio, de Ítalo Calvino.
Cada coreógrafo trabalhou norteado por um estado (leveza, rapidez, multiplicidade, exatidão e visibilidade). O reconhecimento do outro se impõe como temática constante, seguido pela violência – tanto no que se refere aos jogos eletrônicos quanto à imagem de corpos acorrentados, que, porém, subvertem a situação de opressão. Há uma frieza na cena, realçada pelo predomínio do branco nos figurinos (de Daniele Geammal e Luna Santos), pela iluminação monocromática (de Renato Machado), que prioriza uma determinada tonalidade a cada passagem, e pela cortina em formato quadriculado (cenografia de Dóris Rollemberg).
Certa frieza também vem à tona por meio da mecânica dos movimentos dos bonecos, devidamente discriminados, evidenciando a intenção de investir num espetáculo de caráter algo expositivo, de deixar a construção à mostra do público. Os atores – André Gracindo, Liliane Xavier, Márcio Newlands, Mariana Fausto, Miguel Araújo e Raquel Botafogo – manipulam os bonecos, produzem sons, engajam seus corpos na realização de coreografias e, num breve momento, dançam sem os bonecos. Com direção geral de Miguel Vellinho, Peh Quo Deux lança instigantes possibilidades em relação à interação entre atores e bonecos.