Trabalho intimista com atmosfera nostálgica
Françoise Forton e Aline Peixoto em Jazz do Coração (Foto: Guga Melgar)
Jazz do Coração, montagem intimista como convém ao espaço onde está sendo apresentada (a sala Rogerio Cardoso na Casa de Cultura Laura Alvim), não tem a intenção de biografar Ana Cristina Cesar, que “surge” no palco duplicada em diferentes fases, na juventude e na maturidade. A dramaturgia, a cargo do diretor Delson Antunes, traz à tona acontecimentos da vida da escritora, mas sem enveredar por um encadeamento de fatos cronológicos e sem perder de vista a palavra poética.
A encenação revela coerência na opção por criações artesanais em sintonia com o pequeno porte do projeto. O cenário de Jeane Terra conta com transparências que evocam cartas, malas envelhecidas e objetos que transportam o público para décadas passadas. Este trânsito também é favorecido pelos figurinos de Carol Lobato, que realçam a imagem espelhada de Ana Cristina Cesar, poetisa lembrada anteriormente em produções como Um Navio no Espaço, com Paulo José e Ana Kutner, e A Teus Pés, com Aracy Cardoso. A iluminação de Luis Paulo Nenen acentua a atmosfera nostálgica do trabalho.
As atrizes Françoise Forton e Aline Peixoto cantam as músicas de Pedro Luis, compostas para o espetáculo (além de eventuais canções conhecidas, como Sabiá), potencializando, dessa forma, o caráter pessoal da montagem. Há, porém, certo desnível entre as atrizes: enquanto a primeira tem presença segura, a segunda evidencia escassez de recursos interpretativos por meio de atuação bastante linear. Ainda assim, Delson Antunes, diretor que acumulou experiência à frente de espetáculos centrados em escritores brasileiros, faz com que Jazz do Coração desponte como uma realização simpática.