Todas as peças no devido lugar
Contestador, passional, libertário: Cazuza, evocado em novo musical (Foto: Leonardo Aversa)
Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz, o Musical segue à risca as características da vertente do musical biográfico, no que se refere a apresentar ao público um panorama da trajetória de dado artista da música popular brasileira. A escolha de João Fonseca para a direção (e de integrantes na equipe técnica, como Nello Marrese na cenografia) remete diretamente a Tim Maia, Vale Tudo, que também contava com um ator revelando sua potencialidade interpretativa – Tiago Abravanel no espetáculo anterior, Emílio Dantas agora.
Aloísio de Abreu assina o texto, que abarca do início da carreira de Cazuza até a sua morte prematura, realçando o convívio com os pais, a intensidade dos relacionamentos afetivos, determinadas etapas da jornada profissional e a dificuldade dos últimos tempos, marcados por viagens ao exterior para o tratamento da Aids. Algumas falas surgem entremeadas, ocasionalmente e com habilidade, às músicas, de perfil libertário (direção musical de Daniel Rocha e Carlos Bauzys). Há, porém, certa reiteração no modo como as canções são incluídas no texto do espetáculo, muitas vezes confirmando o estado emocional de Cazuza. Esta opção se torna um pouco mais justificável se for considerado um eventual desejo de abordar a criação artística do cantor e compositor como decorrência das fases de sua vida.
Em todo caso, a grande qualidade dessa montagem reside na atuação de Emílio Dantas, que, por meio de minucioso trabalho de corpo e voz, traz à tona o caráter contestador e passional de Cazuza. Cabe destacar ainda a enérgica composição de André Dias, como Ezequiel Neves. Susana Ribeiro e Marcelo Várzea fazem, em adequado tom discreto, Lucinha e João Araújo. Fabiano Medeiros e, em especial, Dezo Mota evocam, de maneira divertida, Caetano Veloso e Ney Matogrosso, respectivamente. O restante do elenco – Yasmin Gomlevsky, Sheila Matos, Thiago Machado, Bruno Fraga, Bruno Narch, Bruno Sigrist, Juliana Bodini, Oscar Fabião, Saulo Segreto e Osmar Silveira – forma um conjunto entrosado, harmônico.
João Fonseca evidencia um padrão de realização alcançado pela produção musical brasileira numa montagem que, contudo, não busca o espetacular. Nello Marrese trilha o caminho da simplicidade e neutralidade através de uma cenografia resumida a praticáveis de madeira – ao invés de tentar reconstituir cada um dos ambientes frequentados por Cazuza. Na parte superior do palco do Theatro Net Rio – Sala Tereza Rachel se encontra a banda composta pelos músicos Marcelo Eduardo Farias, Evelyne Garcia, Bernardo Ramos, Daniel Rocha, Raul D’Oliveira, Rafael Maia e Herbert Souza. Os figurinos de Carolina Lobato promovem a explosão de cores e a irreverência notadamente juvenis.