Tereza Rachel: atriz de espetáculos emblemáticos
Tereza Rachel: ilustração contida no programa de Édipo Rei, montagem de Flávio Rangel para a tragédia de Sófocles
Apesar de afastada dos palcos há bastante tempo, Tereza Rachel – nome artístico de Teresinha Malka Brandwain Taiba de La Sierra, que nasceu em 1935 e morreu no último sábado – foi uma das atrizes mais importantes e de personalidade interpretativa mais vigorosa do teatro brasileiro. Passou por companhias como o Teatro Nacional de Comédia, o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e a Tônia-Celi-Autran (um dos grupos dissidentes do TBC).
A atriz integrou espetáculos emblemáticos. Vale mencionar Liberdade, Liberdade, coletânea de textos reunida por Flávio Rangel (diretor da encenação) e Millôr Fernandes sobre a opressão sofrida pelo ser humano ao longo dos séculos – uma produção do Grupo Opinião que se tornou marco da resistência contra a ditadura. “Mais do que a sua já bem conhecida força dramática, que ela põe, com particular categoria, a serviço dos textos de Eluard, de Brecht e de Buchner, impressionaram-nos, desta vez, a elegância e a leveza da sua presença, que se manifestam, por exemplo, na cena de Beaumarchais e que nos parecem representar um novo progresso na carreira dessa excelente atriz”, escreveu o crítico Yan Michalski, no Jornal do Brasil. Outro trabalho destacado foi em Édipo Rei, tragédia de Sófocles, na qual surgiu como Jocasta ao substituir rapidamente Cleyde Yáconis, obrigada a se submeter a uma cirurgia de emergência. Nessa encenação, Tereza Rachel deu continuidade ao elo com Rangel e o ator Paulo Autran.
Travou mais uma parceria constante com o ator e diretor Sergio Britto. Contracenou com ele em Tango, de Slawomir Mrozek, sob a condução de Amir Haddad, e foi dirigida por Britto nas montagens de Os Órfãos de Jânio, produção do Teatro dos 4 a partir de texto de Millôr Fernandes diretamente inspirado em Os Filhos de Kennedy, de Robert Patrick, e em A Senhorita de Tacna, obra de Mario Vargas Llosa. Tereza defendeu o recorte adotado por Millôr em entrevista concedida a Flavio Marinho em matéria publicada no jornal O Globo. “Você diz que Millôr só coloca em cena personagens fracassadas. Pode ser. Mas, de resto, os últimos 20 anos vividos pelo país não podem ser chamados política e humanamente de gloriosos. No entanto, no final da peça, através de um cantochão, o autor faz questão de esclarecer que o povo, a não ser por algumas pessoas como as suas personagens, soube resistir, individual ou coletivamente, com humildade e espírito de equilíbrio”. Já A Senhorita de Tacna foi encenada em seu teatro, o Tereza Rachel, que recebeu espetáculos de peso desde a inauguração em 1971 até ser vendido para a Igreja Universal do Reino de Deus, que utilizou o espaço entre 2001 e 2008. Em 2011, o produtor Frederico Reder arrendou o teatro, rebatizando de Net Rio (dividido em duas salas – Tereza Rachel e Paulo Pontes).
Tereza trabalhou ainda com diretores estrangeiros em espetáculos ousados, como os argentinos Victor Garcia, em O Balcão, de Jean Genet, montagem produzida por Ruth Escobar, e Jorge Lavelli, em A Gaivota, de Anton Tchekhov, e o francês Claude Régy em A Mãe, de Stanislaw Witkiewicz. Sobre a atuação de Tereza Rachel, como Arkádina, em A Gaivota, Yan Michalski fez elogio contundente, no JB. “O desempenho mais brilhante é o de Tereza Rachel, que transmite uma visão ao mesmo tempo sinceramente simpática e cruelmente crítica de Arkadina”.