Temática delicada tratada com sensibilidade
Letícia Colin em Mas por quê?!? A História de Elvis, em cartaz no Theatro Net Rio (Foto: Renato Mangolin)
“O amor não acaba só porque a gente não se vê mais”, afirmam, em dado momento, em Mas por quê?!? A História de Elvis, que tem como protagonista a menina Cecília, triste com a morte de seu canário, Elvis, assim denominado em homenagem ao cantor Elvis Presley. Peter Schossow, autor do livro que deu origem à montagem, que conta com dramaturgia de Rafael Gomes e Vinicius Calderoni, parece chamar atenção para o fato de que as relações continuam mesmo na distância, na ausência.
Cecília é consolada por figuras que esqueceu – ou, melhor dizendo, achava que tinha esquecido, mas permanecem vivas dentro da sua cabeça: a avó, eternizada em foto, uma amiga imaginária, um urso de pelúcia e um vilão de filme de pirata. O projeto do espetáculo traz um desafio: falar sobre perda (mais especificamente, sobre morte) para o público infantil e o texto cresce no terço final, quando realça, de forma poética, sua delicada temática sem sublinhar uma mensagem (a última cena é particularmente impactante). Já a parte de apresentação dos personagens que habitam Cecília soa um tanto esgarçada.
Mas a montagem assinada por Renato Linhares, em cartaz no Theatro Net Rio, reúne boas passagens, a exemplo da cena em que Cecília canta, de maneira melancólica, Always on my Mind e é bruscamente interrompida por Lili, a amiga imaginária, que pergunta: “por que você esqueceu da gente?” Também cabe destacar a cenografia de Bia Junqueira, formada por elementos de altura variável que lembram órgãos de Igreja, mas aberta a múltiplas percepções. Concebido em imperante tom pastel, ocasionalmente contrastado com a intensidade do vermelho, o cenário reserva belas surpresas, como a estrutura composta por diversas fitas brancas verticais. A iluminação de Luiz Paulo Nenen insere tonalidades mais fortes que quebram com a proposital neutralidade da cenografia. Os figurinos de Luciana Buarque são atraentes e criativos. Não há, porém, como deixar de notar certo desnível no traje do urso de pelúcia.
Mas por quê?!? A História de Elvis não propicia exatamente grandes voos interpretativos, ainda que o engajamento dos atores seja inegável. Letícia Colin, apesar da fase dramática vivenciada por Cecília, imprime um pouco mais de gravidade que o necessário. Marcel Octavio, Pedro Lima e Simone Mazzer cumprem disciplinadamente e com empenho seus trabalhos. Júlia Gorman sobressai com presença precisa.