Teatro de identificação
Marcius Melhem e Luciana Braga em O Submarino, em cartaz no Teatro das Artes
A partir do início da década de 90, Miguel Falabella despontou, de forma consistente, como dramaturgo por meio de textos que evidenciavam seu olhar carinhoso em relação à humanidade. Esta característica é especialmente flagrante em A Partilha, centrado no reencontro e acerto de contas entre quatro irmãs; A Vida Passa, na qual retomou com sensibilidade as mesmas personagens; No Coração do Brasil, evocação nostálgica da atmosfera de um cinema poeira da Ilha do Governador, bairro diretamente ligado à memória afetiva do autor; e Como encher um Biquíni Selvagem, peça em que comprovou domínio na criação de uma galeria de personagens (texto estruturado como monólogo e depois transportado para a tela pelo próprio Falabella). Já em Todo Mundo Sabe que Todo Mundo Sabe, mais um exemplar bem acabado de sua dramaturgia (em parceria com Maria Carmem Barbosa), radiografou com acidez a aristocracia falida que não mede esforços para preservar o status.
Encenado na segunda metade dos anos 90, O Submarino é menos satisfatório que os demais textos mencionados. Escrita com Maria Carmem, a peça pode ser conectada a outras, tanto em perspectiva geral (a abordagem dos relacionamentos – no caso, do instável dia a dia de marido e mulher) quanto em esfera mais específica (o contato estabelecido através de cartas, assinalando a continuidade dos vínculos na distância, a revelação de intimidades sexuais em instantes passionais). Mas O Submarino, que repousa sobre as idas e vindas de um casal que mantém um elo marcado pela dependência, não alça voo alto no humor e nem na construção de um retrato, ainda que despretensioso, da vida conjugal.
A montagem dirigida por Victor Garcia Peralta, que costuma se debruçar sobre textos contemporâneos que suscitam identificação imediata no público graças à temática cotidiana exposta em cena, surge revestida de cuidado de produção. Entretanto, a cenografia de Miguel Pinto Guimarães delimita de modo algo óbvio os diferentes estágios do casamento por meio da manipulação da cama, às vezes unida, às vezes separada em dois blocos. Luciana Braga procura projetar as reações da personagem de maneira mais destacada, incorrendo em certa dose de exagero. Marcius Melhem está um pouco mais comedido, administrando, com habilidade, a sua personalidade de humorista.