Teatralidade em cena sublinhada
FESTIVAL DE CURITIBA – A presença de encenações internacionais aumentou nessa edição do Festival de Curitiba. Na Mostra Oficial há In the Dust (Escócia), Kiss & Cry (Bélgica) e o elogiado Ukchuk-ga (Coreia do Sul), além de Homem Vertente, montagem brasileira do espetáculo da companhia argentina Ojalá. No Fringe marca presença a encenação de 1325, do grupo Peripécia Teatro, sediado em Portugal.
Livremente inspirada na publicação 1325 Mujeres Tejiendo la Paz, organizada por Manuela Mesa Peinado, a encenação destaca a importância de mulheres em contextos adversos, tomados pela exclusão e pela dizimação de povos. Trata-se da espinha dorsal do trabalho que, estruturado em quadros, traz à tona os contextos do Gueto de Varsóvia, do conflito Israel-Palestina, das mazelas que assolam a África, da Guerra das Malvinas, da via-crúcis das Mães da Praça de Maio.
Essa costura dramatúrgica (a cargo de José Carlos Garcia, também diretor) carece, em certa medida, de sutileza. Alguns sentidos – como a determinação de uma personagem em não usar lente de grau para não enxergar o estado do mundo e a capacidade geral de superar as tragédias e seguir em frente – são excessivamente realçados. Os atores Angel Fragua, Noelia Domínguez e Sérgio Agostinho (interpretando, na maior parte do tempo, personagens femininas) evidenciam registro expansivo, buscando expressar reações a cada momento, característica ainda mais marcante na atriz do que nos atores.
Principais elementos cenográficos, as roupas simbolizam as ausências dos que foram exterminados em regimes autoritários. Existe notada (e bem-vinda) preocupação do diretor em ressaltar a teatralidade da proposta através da resignificação de objetos do cenário, afastados de seus sentidos literais. Assim, uma fita elástica é usada para sugerir variados espaços, blocos de roupa formam o desenho do continente africano e duas luvas simbolizam o reencontro entre mãe e filha.
O crítico viajou a convite da organização do festival
As 15 escolhas do Horizonte da Cena neste FITBH | horizontedacena
4 de maio de 2014 @ 18:35
[…] “Principais elementos cenográficos, as roupas simbolizam as ausências dos que foram exterminados em regimes autoritários. Existe notada (e bem-vinda) preocupação do diretor em ressaltar a teatralidade da proposta através da resignificação de objetos do cenário, afastados de seus sentidos literais. Assim, uma fita elástica é usada para sugerir variados espaços, blocos de roupa formam o desenho do continente africano e duas luvas simbolizam o reencontro entre mãe e filha”, por Daniel Schenker, para o blog de sua autoria. […]