Resultado a partir de proposta sintética
Zécarlos Machado em Brincando com Sanduíche (Foto: Daniel Volpi)
O Grupo Tapa ocupa, no panorama teatral, um lugar específico, tendo em vista que segue norteado pela construção de um repertório consistente numa época em que o apego à dramaturgia parece ter se dissolvido em parte, pelo menos em comparação com a cena de décadas anteriores. Mas a conexão da companhia com o chamado teatro de texto não implica em abordagens museológicas, limitadas ao objetivo de transmitir um enredo com clareza ao público. À frente do Tapa, Eduardo Tolentino de Araújo valoriza o trabalho dos atores e lança leituras propositivas acerca das peças encenadas.
Atualmente, a plateia carioca pode assistir (apenas até o próximo domingo) a dois dos cinco monólogos de Alan Bennett, escritos para a BBC de Londres, montados pelo Grupo Tapa dentro do projeto Retratos Falantes: Fritas no Açúcar (traduzido por Clara Carvalho) e Brincando de Sanduíche (por Augusto Cesar). É possível notar elos entre os dois textos, tanto no que se refere à “temática” – a repressão sexual e a fronteira entre a prática da sexualidade e a ética – quanto a dados periféricos – o preconceito contra indianos.
Brian Penido Ross em Fritas no Açúcar (Foto: Flávio Moraes)
O diretor Eduardo Tolentino de Araújo confere o mesmo tratamento aos textos, encenados como oportunos veículos para atores – Brian Penido Ross e Zécarlos Machado, ambos com longa história dentro do Tapa. Brian Penido opta por composição mais marcada, principalmente na evocação dos personagens invisíveis mencionados por Graham, que adquiriu dependência em relação à mãe, com quem continua morando. Eventuais exageros, porém, são compensados diante da percepção de que o traço caricatural desses personagens mencionados corresponde ao modo como ficaram internalizados em Graham. Zécarlos Machado adota registro um pouco mais sutil para interpretar Wilfred, que esconde um segredo por trás da aparência de homem pacato.
A determinação em concentrar o foco em torno dos atores é evidente numa montagem que se vale de elementos cenográficos reduzidos ao necessário; de figurinos (de Lola Tolentino) simples que potencializam os perfis dos personagens; e de iluminação (de Nelson Ferreira) com gradações precisas que priorizam a penumbra em detrimento da luz aberta. Retratos Falantes é uma proposta despojada (o que, em si, não é um demérito), levando-se em conta o padrão de encenação firmado pelo Grupo Tapa no decorrer dos anos, mas reúne características realçadas no percurso da companhia: o destaque ao texto e a atenção destinada ao ator.
Nelson Rodrigues de Souza
12 de setembro de 2014 @ 19:58
Daniel,
Fica até domingo, dia 14, assim como o formidável “Retratos Falantes” , um espetáculo que considero imperdível, onde se mescla dança&música&teatro dramático e um tanto de comédia, “Maratona” no Teatro Sérgio Porto às 20:00 hs. O filme baseado no mesmo romance que o espetáculo, recebeu no Brasil o título de “A Noite dos Desesperados” com direção de Sidney Pollack, quando o melhor mesmo seria manter o original “Mas Não se Matam Cavalos?”. Neste filme, Jane Fonda tem um dos seus grandes desempenhos em sua carreira ,senão o melhor. A peça “Maratona” não tem a mesma espessura em termos de dramaticidade ( seria muito difícil reproduzir este tom num palco ), mas tem atrativos de várias ordens e com virtuosismos que não se prestam a enfeites. .
Como está em cartaz até domingo agora no Sérgio Porto, uma crítica do espetáculo seria bastante importante, bem-vinda, ainda mais por não sabermos se a produção vai encontrar outro teatro para dar continuidade ao espetáculo. Mesmo quem não gostar, vai reconhecer a originalidade e o empenho dos envolvidos nesta adaptação, onde brincadeiras aqui e ali são daquelas que mais nos fazem doer, por reconhecimento, por espelhamento, do que rir.
Enfatizando que sou apenas um espectador que gosta muito de Teatro, não tendo nenhum elo com produção e atores e me valho aqui do site do Teatro para um resumo de “Maratona”: e de sua proposta.
Abs,
Nelson
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Teatro
Maratona
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A peça tem livre inspiração no livro “Mas não se mata cavalo?”, de Horace McCoy, romance que retrata as maratonas americanas de dança realizadas após a crise de 29, quando a fome levou milhares de pessoas a participarem de competições que podiam durar até quatro meses. MARATONA estabelece um paralelo entre os maratonistas pós-crash e os competidores do Clube Oásis – salão fictício onde a peça é ambientada. No momento em que o Rio de Janeiro passa por sensíveis transformações por conta da Copa e da recepção dos Jogos Olímpicos de 2016, os atletas do Oásis, habitantes da cidade Quase-Maravilhosa, são submetidos a todo tipo de provação em busca do Grande Prêmio. O público entra, a sirene toca, o juiz dita as regras, a música começa. A partir daí não se pode mais parar de dançar. Música após música, durante horas, dias, meses, até restar o vencedor.
Direção: Diego de Angeli e Gabriela Carneiro da Cunha | Dramaturgia: Diego de Angeli, Gabriela Carneiro da Cunha, Julia Ariani, Lisa Dias Borges, em colaboração com o elenco | Elenco: Daniel Kristensen, Diana Behrens, Gabriel Salabert, Gabriela Carneiro da Cunha, Izadora Mosso Schettert, João Marcelo Iglesias, Nara Parolini, Pedro Florim, Ramon de Angeli, Thiago Ristow | Direção de Movimento: Maíra Maneschy | Preparação Corporal: Diana Behrens e Ramon de Angeli | Iluminação: João Gioia e Wagner Azevedo | Cenário: Joana Passi | Figurino: Tarsila Takahashi | Consultoria de Visagismo: Diego Nardes | Trilha Sonora: Diego de Angeli, Gabriela Carneiro da Cunha e Letto | Pesquisa Musical: Letto Programação Visual: Thiago Ristow | Produção Executiva: Pangeia cia.deteatro | Direção de Produção: Gabriel Salabert | Realização: Pangeia cia.deteatro, Outra Cia. e Teatro Catapulta
De 29 de agosto a 14 de setembro
Sexta a Domingo às 20h
R$ 20 inteira | R$ 10 meia
Classificação: 14 anos.