Propostas nem sempre desenvolvidas
A atriz Clara Santhana, cercada pelos músicos, em Deixa Clarear (Foto: Claudia Ribeiro)
Concebido como homenagem aos 30 anos de morte da cantora Clara Nunes, o musical Deixa Clarear afirma determinadas especificidades em relação ao formato biográfico, concentradas, em boa parte, na estrutura do texto de Márcia Zanelatto, que busca o registro poético.
A montagem assinada por Isaac Bernat lança algumas proposições nem sempre encorpadas ao longo da apresentação. A principal é a conexão entre a atriz Clara Santhana, idealizadora do projeto, e Clara Nunes. A fala em primeira pessoa poderia ter sido inserida de modo mais marcante na malha dramatúrgica do espetáculo.
O aproveitamento dos músicos –Michel Nascimento, Bidu Campeche (percussão), Felipe Rodrigues (violão/cavaquinho) e Lauro Lira (flauta/violoncelo) – como atores é um recurso interessante, mas, em Deixa Clarear, fica reduzido a rápidas contracenas e a uma sequência ambientada no Programa do Chacrinha que justamente quebra com o andamento do texto e da montagem.
Clara Santhana demonstra empenho e dedicação. Entretanto, não chega a firmar personalidade interpretativa mais destacada e recorre a dispensáveis composições na evocação de personagens que passaram pela vida de Clara Nunes, opção empregada especialmente no início do espetáculo. A atriz também não imprime colorido suficiente ao texto e é prejudicada, nos minutos iniciais, pela artificialidade da voz amplificada através do microfone.
As restrições, porém, não anulam o visível cuidado do trabalho que, após temporada no Teatro Café Pequeno, ressurge no Teatro das Artes em configuração cênica um pouco expandida, levando-se em conta o perfil intimista de Deixa Clarear. O cenário de Doris Rollemberg dá a sensação de leveza decorrente dos bancos em madeira clara e da cortina de fundo em tom prateado, além de outros elementos utilizados em breves instantes. Na iluminação de Aurélio de Simoni predomina o amarelo, em variações que esquentam a cena. O figurino de Desirée Bastos evidencia total sintonia com a suavidade que impera na montagem. Cabe elogiar ainda a direção de movimento de Marcelle Sampaio.