Pirandello com a marca do Galpão
O Grupo Galpão retoma, na encenação de Os Gigantes da Montanha, a bem-sucedida parceria com Gabriel Villela, concretizada, anteriormente, em Romeu e Julieta e A Rua da Amargura. Também comprova a sua vocação para o teatro de rua, manifestada em espetáculos como Um Molière Imaginário, Till, a Saga de um Herói Torto e no citado Romeu e Julieta. E volta a eleger o teatro como tema depois de Um Trem chamado Desejo. Essa nova montagem do Galpão reúne, portanto, características da companhia mineira fundada há pouco mais de 30 anos. Pode ser vista, apenas até hoje, no Monumento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo.
É possível identificar o Galpão na escolha de uma dramaturgia como a de Os Gigantes da Montanha, de Luigi Pirandello – em tradução de Beti Rabetti, que já havia participado como dramaturgista desse texto em montagem de Moacyr Góes, no início da década de 90 –, distante do realismo (ainda que o grupo tenha transitado, recentemente, pela dramaturgia de Anton Tchekhov), e em toda a criação estética, que remete não só a outros trabalhos da companhia como à conhecida assinatura de Gabriel Villela: o detalhamento barroco presente nos figurinos (de Villela, Shicó do Mamulengo e José Rosa), a homenagem ao teatro evidenciada na cenografia (de Villela, Helvécio Izabel e Amanda Gomes), a evocação artesanal de um clima fantasmagórico na iluminação (de Chico Pelúcio e Wladimir Medeiros), o expressivo emprego da música a serviço da cena (arranjos, composição e preparação musical a cargo de Ernani Maletta).
Sobressai, nessa obra inacabada de Pirandello, o tributo prestado ao ator como aquele que materializa personagens (fantasmas) por meio de seu corpo. A dramaturgia, realizada por Eduardo Moreira e Gabriel Villela, procura aproximar a peça do público contemporâneo através de menções às dificuldades enfrentadas pelos artistas nos dias de hoje para fazer teatro e a figuras da vida política atual. Por mais oportunos que sejam esses cacos, soam algo gratuitos. Na direção, Gabriel Villela opta por marcações frontais, talvez devido à própria natureza da relação estabelecida entre atores e espectadores na rua e certamente por causa da circunstância de apresentação teatral contida no texto de Pirandello. O elenco do Galpão – Antonio Edson, Arildo de Barros, Beto Franco, Eduardo Moreira, Inês Peixoto, Júlio Maciel, Lydia Del Picchia, Paulo André, Simone Ordones e Teuda Bara, tendo Luiz Rocha e Regina Souza como convidados – atua com o encanto e a competência habituais. O aproveitamento de um espaço como o do Monumento aos Pracinhas para iniciativas artísticas é um feito a ser louvado e é pena que não ocorra com mais frequência.