Partes distintas de um mesmo musical
Cena de Chacrinha, o Musical, em cartaz no Teatro João Caetano (Foto: Caio Galucci)
Há praticamente dois espetáculos dentro de Chacrinha, o Musical, tendo em vista que as estruturas dramatúrgicas do primeiro e do segundo atos diferem bastante. No primeiro, o público acompanha a trajetória de Abelardo Barbosa, desde a infância até o início de sua escalada profissional. Pedro Bial e Rodrigo Nogueira, que assinam o texto, seguem um modelo biográfico tradicional. No segundo, os autores procuram reconstituir a atmosfera do Cassino do Chacrinha e substituem o desfile de uma sucessão de acontecimentos no decorrer do tempo por um retrato mais estagnado e intimista do personagem-título, realçando, porém, fatos marcantes de sua carreira dentro da televisão, em especial no que diz respeito aos seus desentendimentos com Boni. Chacrinha também é interpretado por atores distintos em cada metade do espetáculo: Leo Bahia e Stepan Nercessian.
A quebra na condução do texto é uma opção interessante, mas o resultado evidencia alguns problemas. Os autores suprimem uma parte importante do percurso de Abelardo Barbosa – a transição entre a rádio de Niterói e o início na televisão. As passagens referentes ao drama familiar de Abelardo são pouco expressivas. A dramaturgia é atravessada por uma abordagem ultrapassada do ser humano por trás do personagem. E o panorama formado pela junção de diversas músicas emblemáticas no primeiro ato é longo demais. Entretanto, a encenação de Andrucha Waddington não se mostra destituída de qualidades. O bom acabamento sobressai, valendo mencionar os figurinos de Claudia Kopke, principalmente no primeiro ato; a cenografia de Gringo Cardia, que busca inspiração no universo do cordel, complementado por animação, recurso utilizado de modo simpático, ainda que reiterativo; e a iluminação de Paulo César Medeiros, que esquenta a cena no primeiro ato e se torna mais feérica no segundo.
No elenco, os destaques ficam com Leo Bahia, que revela bom timing e divertida composição do Chacrinha jovem, e Stepan Nercessian, que traz à tona, com precisão, a figura eternizada do singular apresentador de televisão (a sua entrada, no final do primeiro ato, é um momento de inegável impacto). Cabe chamar atenção para a presença de Mateus Ribeiro, que não economiza vibração nas suas intervenções ao longo do espetáculo. Chacrinha não chega a sinalizar avanços contundentes no terreno do musical, mas é um trabalho dotado de determinadas especificidades, que, ao mesmo tempo em que demonstra filiação a um modelo consagrado, não se limita a reproduzi-lo.
carmattos
20 de dezembro de 2014 @ 13:29
Agora vou ver de qualquer jeito
danielschenker
26 de dezembro de 2014 @ 16:34
Veja, sim, Carlinhos. Acho que vale a pena.