Para celebrar Grotowski
O encenador polonês Jerzy Grotowski (1933-1999) conceituou o Teatro Pobre, expressão que se refere à percepção do essencial para que ocorra o acontecimento teatral: as presenças de um ator e de um espectador. A disposição do ator à realização de um “autodesnudamento impiedoso” pode levar ao estabelecimento de uma conexão de alma para alma com o espectador. Os demais elementos constitutivos da cena são considerados menos importantes que essa interação. O trabalho de Grotowski com Ryzsard Cieslak, na encenação de O Príncipe Constante, de Calderón de la Barca, desenvolvido a partir da evocação de uma memória íntima do ator, foi particularmente marcante. Não por acaso, Grotowski realizou incisões, operações sobre os textos com os quais trabalhou (além do mencionado, Akrópolis, de Stanislaw Wyspianski, e A Trágica História de Doutor Faustus, de Christopher Marlowe), ao invés de encená-los em suas integridades.
Em lembrança aos 20 anos da morte de Grotrowski, Tatiana Motta Lima coordenou a segunda edição do Seminário Internacional Grotowski 2019: Uma Cultura Ativa (a primeira aconteceu dos 10 anos do falecimento do encenador), que contou, nos últimos dias, com vasta programação composta por palestras, oficinas, encontros teóricos, lançamento de livro e apresentação de espetáculo. O evento foi realizado a partir de uma parceria entre a UniRio, o Teatro Poeira e a Escola de Capoeira Angola Renascer. Entre os convidados estiveram François Kahn – trabalhou com Grotowski entre 1973 e 1985 no Teatro Laboratório de Wroclaw -, que lançou o livro O Jardim e apresentou o solo Moloch – Testemunha: Allen Ginsberg; Carla Pollastrelli – importante colaboradora de Grotowski que trabalhou na Fondazione Pontedera Teatro e na Casa Laboratório, iniciativa sediada em São Paulo, com direção artística de Roberto Bacci e Cacá Carvalho, e curadora (juntamente com Ludwik Flaszen) do livro O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski 1959-1969; e Mario Biaggini – trabalhou com Grotowski e Thomas Richards a partir de 1986.