O brilho da atriz
Suzana Faini, em grande interpretação, e Alice Steinbruck: boa contracena na montagem de Paulo de Moraes (Foto: Fabiano Cafure)
Em O Como e o Porquê, a dramaturga americana Sarah Treem apresenta o conflito entre duas mulheres de gerações diferentes que pertencem à mesma área, a bióloga Zelda e a estudante de pós-graduação Raquel. A admiração da aprendiz pela profissional renomada logo cede terreno a uma postura de defesa agressiva de Raquel em relação a Zelda sem que o público tenha acesso às razões, trazidas à tona no decorrer do texto. A autora envolve o espectador na evolução do embate entre as duas personagens. Tangencia, mas dribla, armadilhas frequentes, como o investimento em revelações – que, contudo, não se convertem em golpes dramáticos – e em jargão científico – uma espécie de verniz ocultador das verdadeiras motivações das personagens, procedimento, porém, que não sobrecarrega o resultado.
Apesar de certa habilidade dramatúrgica, a grande qualidade da montagem de Paulo de Moraes, atualmente em cartaz no Teatro Sesc Ginástico (depois de encerrada a temporada, no dia 1º de maio, seguirá para o Teatro Fashion Mall), é a atuação de Suzana Faini. A atriz comprova domínio na articulação entre pensamento e fala, torna palpável a personalidade de Zelda, convence sobre a intimidade da bióloga com o universo abordado e demonstra precisão nas transições propostas pela dramaturga. Alice Steinbruck soa algo linear, em especial nos instantes de exaltação da primeira metade do espetáculo. Talvez por causa da falta de modulação, a exacerbação do começo pareça mais inverossímil do que exatamente estranha. Mas a contracena entre ambas rende bons momentos.
Paulo de Moraes assina uma montagem elegante, sóbria, dotada de sofisticada simplicidade. O cenário, a cargo do diretor, é composto por poltronas, possíveis símbolos dos distintos estágios atravessados pelas personagens à medida que os fatos vão sendo descortinados diante da plateia. A iluminação de Maneco Quinderé destaca não só os lugares onde as personagens se encontram como também os espaços de ausência. A neutralidade da luz contrasta com o foco vermelho destinado a uma cômoda. A trilha sonora de Bianca Gismonti pontua a cena com contenção, mas flertando com a condução emocional.
O Como e o Porquê surge como um novo capítulo na sequência de ótimas interpretações realizadas por Suzana Faini nos últimos anos. Conferir o trabalho da atriz, na plenitude de seus recursos, é o maior – mas não o único – prazer reservado ao espectador.