Na contramão do aparato tecnológico
Cena de Édipo, encenação da Companhia do Chapitô (Foto: Renato Mangolin)
Encenação da companhia portuguesa Chapitô que retornou ao Rio de Janeiro para pouquíssimas apresentações, na Caixa Cultural, encerradas no último domingo, Édipo está fundada na crença de que o teatro é uma manifestação artística que não necessita de muitos recursos para acontecer. Assinada por John Mowat, a montagem faz uma defesa de um teatro essencial, evidenciada na ausência de elementos cenográficos, nos figurinos despojados e na concentração absoluta nos trabalhos dos atores.
A tragédia de Sófocles se transforma em comédia devido ao registro interpretativo do elenco, composto por Jorge Cruz, Marta Cerqueira e Tiago Viegas, que se colocam dentro das situações propostas, ao mesmo tempo em que comentam, de modo bem humorado, os próprios procedimentos de atuação. O resultado reverbera imediatamente nos espectadores, que se divertem – ao invés de se distanciarem – diante da exposição da mecânica do jogo, a exemplo dos instantes em que os atores informam que mudaram de personagens. Vale destacar a cena do nascimento de Édipo.
A montagem segue uma determinada vertente do teatro contemporâneo que se localiza na contramão do aparato multimídia e de todo o fascínio tecnológico. Valoriza o que, de certa maneira, passou a ser considerado como algo obsoleto: o ato de contar uma história. Não há, cabe ressaltar, uma restrição implícita à parcela da cena atual que não é voltada para a transmissão de um dado enredo ao público. Também não significa que o grupo se debruce sobre a palavra, tendo em vista que a intenção aqui é bem mais a de estabelecer com a plateia uma relação coloquial do que realçar a qualidade poética do material textual original. Seja como for, no caso de Édipo, a história vem à tona por meio do trabalho físico vigoroso, mas não obrigatoriamente virtuosístico, dos atores.