Jogos de poder em dinâmica reiterativa
Cena de Foi você quem pediu para eu contar a minha história (Foto: Beto Roma)
Quatro meninas se revezam nos papéis de vítimas e algozes numa ciranda de brincadeiras cruéis. Sonham com vidas que não têm acesso, distantes de suas realidades, descompasso destacado em Foi você quem pediu para eu contar a minha história, texto de Sandrine Roche, atualmente em cartaz no Teatro do Leblon / Sala Fernanda Montenegro.
Em sintonia com a dramaturgia, adaptada por Thereza Falcão, o diretor Guilherme Piva conduz uma encenação que valoriza a semelhança, o espelhamento, entre as meninas, perceptível no registro interpretativo das atrizes (Bianca Castanho, Fernanda Vasconcellos, Karla Tenório e Talita Castro) e nos figurinos de Carol Lobato, com resultado questionável no primeiro caso. O diretor dinamiza, em certa medida, o desenho cênico por meio das marcações das atrizes na estrutura de ferro – que faz parte do parque infantil da cenografia de Paula Santa Rosa e Rafael Pieri, também composta por um balanço e um banco –, pontuadas por discreta trilha sonora de Marcelo Alonso Neves.
Possivelmente, a intenção da autora foi mais confirmar um determinado painel do que descortinar novos ângulos acerca dos vínculos entre as meninas que passam os dias praticando jogos de poder, mas a construção circular não chega a se tornar instigante. A impressão de mera repetição, imperante ao longo dessa montagem concisa (50 minutos de duração), não é suavizada pela existência de eventuais especificidades entre as personagens.
Ainda que haja pequenas variações, no que diz respeito a reações um pouco mais ou menos expansivas, as atrizes realçam a sensação de linearidade, principalmente no que se refere ao tom de voz exaltado que reitera a agressividade das meninas já evidenciada no texto. O elemento que mais sobressai no espetáculo é a iluminação de Renato Machado, que integra e, ao mesmo tempo, delimita os espaços do mencionado parque infantil, agrega e individualiza cada personagem.