Intensidade juvenil em espetáculo padronizado
Fazendo História, montagem de Gláucia Rodrigues para o texto de Alan Bennett (Foto: Guga Melgar)
Em Fazendo História, Alan Bennett coloca em debate diferentes perspectivas de ensino, simbolizadas por dois professores – Hector, mais libertário, e Irwin, mais sintonizado com o principal objetivo da instituição: fazer com que os alunos ingressem em faculdades do porte de Oxford ou Cambridge. O dramaturgo evita uma abordagem maniqueísta e não reduz os professores a meros representantes de posicionamentos estabelecidos. Irwin tenta estimular nos alunos a busca por uma singularidade, por um ponto de vista capaz de destacar o indivíduo na multidão, mas seus procedimentos são artificiais. Hector mantém relação sem qualquer traço de formalidade com os alunos; esbarra, porém, em limites éticos que, contudo, não ganham peso condenatório na peça (traduzida por José Henrique Moreira).
Em cartaz no Teatro Eva Herz, a montagem de Fazendo História é assinada por Gláucia Rodrigues, atriz da Cia. Limite 151 (conhecida pela valorização dramatúrgica), em sua primeira incursão como diretora. O fato de estar estreando nessa função talvez tenha levado Gláucia a não ultrapassar o plano da correção. Falta colorido à encenação, que segue praticamente no mesmo nível, sem oscilação, do início ao fim. A diretora também revela dificuldade na condução do elenco, seja por não podar exageros, seja por não minimizar a inexperiência de alguns atores. Mouhamed Harfouch e André Arteche são os que mais se aproximam de um equilíbrio entre a impressão de uma presença interpretativa e certa discrição (não realçam em excesso determinadas características dos personagens).
A simplicidade está estampada nas criações que integram a montagem. O cenário de José Dias é composto por poucos elementos: cadeiras, cadeira de rodas e piano. Os figurinos de Dani Vidal & Ney Madeira (Espetacular Produções e Artes) são uniformes para os alunos e específicos para professores e membros da instituição de ensino, variando de acordo com os perfis de cada um – apenas Dorothy parece destoar ao surgir trajada de modo mais austero que o necessário. A iluminação de Rogério Wiltgen recorta os personagens nos momentos de narração, de evocação do passado, demarcando essa outra esfera temporal. Apesar das restrições, Fazendo História – texto que já foi adaptado para o cinema em filme de Nicholas Hytner – suscita oportuna reflexão a partir do contato com a obra de Bennett.