Intencionalmente impessoal
Cena da encenação espanhola Matéria Prima (Foto: Mario Zamora)
TEMPO FESTIVAL – Em Matéria Prima, montagem da companhia espanhola La Tristura, quatro crianças de 13 anos ora agem e falam em sintonia com sua idade, ora evidenciam descompasso ao trazerem à tona vivências adultas. Nesses momentos, abordam os acontecimentos a partir da elaboração realizada ao longo do tempo, a julgar pela percepção da discrepância entre o que foi projetado para a própria vida e o que efetivamente ocorreu.
Talvez por levar o elenco a transitar por diferentes instâncias temporais, os diretores Celso Giménez, Itsaso Arana e Violeta Gil (todos assinam o texto ao lado de Paulo Fidalgo) não buscam imprimir nas falas um caráter pessoal. Mesmo quando parecem fazer referência a suas vidas, os atores surgem destituídos de especificidades, um tanto equivalentes. As atuações das quatro crianças – Candela Recio, Gonzalo Herrero, Irene Bolaños e Siro Ouro – soam tão entrosadas quanto indistintas.
Este resultado dá a impressão de ser mais intencional do que decorrente de uma falha na condução da montagem, mas o registro de atuação – somado a recursos empregados durante o espetáculo, como a exibição do texto em tela quando os atores/personagens não falam e a utilização de microfones que uniformiza as vozes – faz de Matéria Prima um trabalho que não toca pela humanidade. A sensação se torna mais marcante devido à escolha do Teatro Carlos Gomes. Apesar do aproveitamento do palco, a encenação fica distanciada do público. Ainda assim, conserva considerável dose de inquietação.