Instantes de revelação
O elenco de Quando as Pessoas Andam em Círculos, encenação em cartaz no CCBB (Foto: Christina Amaral)
Quando as Pessoas Andam em Círculos, nova montagem da Artesanal Companhia de Teatro, atualmente em cartaz no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil, sinaliza, nos seus minutos iniciais, que colocará o espectador diante de momentos de revelação dos atores. No entanto são os personagens que se revelam no decorrer da apresentação.
Responsáveis pela dramaturgia, Daniel Belmonte e Gustavo Bicalho (o segundo, diretor do espetáculo, em parceria com Henrique Gonçalves, e à frente da seleção musical) reúnem jovens numa boate e frisam os mecanismos de representação acionados nessa circunstância específica. Os personagens procuram disfarçar as próprias inseguranças, a ausência de integração dentro de um espaço que os deixa em evidência, a sensação concreta de falta de pertencimento. À medida que a noite avança, sustentam cada vez menos as máscaras sociais e se desconstroem, externando justamente as verdades que temem expor.
Há, nesses instantes, um relativo descolamento da situação ficcional. Os personagens permanecem inseridos no contexto, mas suas catarses parecem se dirigir ora uns aos outros, ora mais ao público. Esse descolamento é maior no começo e no final, centrado no olhar preconceituoso que vitima a mulher, percepção oportuna, que, porém, soa como discurso incluído de modo artificial dentro da dramaturgia.
Uma eventual originalidade da montagem não reside exatamente no universo temático abordado e nem no desenho dos personagens, que obedecem categorizações tradicionais (o gay, o homofóbico, a moça em crise com a balança), mas numa certa habilidade da direção de manter, ao longo de pouco mais de uma hora, a cena ambientada no interior de uma boate, com os personagens girando em círculos, sem rumo definido, em tentativas de estabelecer algum elo, ainda que meteórico.
Em todo caso, o esquematismo dos personagens, atravessados por construções planas, é compensado pela fluência do elenco – formado por Bruno Jablonski, Ciro Acioli, Gabriel Rochlin, Igor Orlando, Isis Pessino, Júlia Bruck, Leonardo Bianchi e Mag Pastori, com destaque para o segundo -, que se esforça para transcender a limitação da tipificação. Visualmente, a cena surge apoiada num contraste entre a neutralidade cromática dos figurinos de Fernanda Sabino e Henrique Gonçalves (marcados, contudo, por discretas inclusões de tons mais vibrantes) e a explosão de cores que toma conta do palco por meio da iluminação de Rodrigo Belay.