Instabilidade em cena econômica
Cena da montagem de O Sósia, do grupo Tentáculos Espetáculos (Foto: Leo Coura)
Montagem do grupo Tentáculos Espetáculos, O Sósia nasceu do desejo de abordar o universo do duplo e tem o mérito de apresentar ao público brasileiro o texto de Friedrich Dürrenmatt, autor mais lembrado por encenações de Seria Cômico se não fosse Sério e A Visita da Velha Senhora.
O diretor Guilherme Delgado investe numa cena algo austera, econômica, evidenciando destaque ao texto e aos trabalhos dos atores. Mas não perde de vista a concepção visual do espetáculo (que o encenador assina, mesmo que diferentes profissionais tenham ficado encarregados da cenografia e da iluminação), em cartaz no Sesc Casa da Gávea.
Há cuidado na discreta construção visual da encenação, em especial no que se refere à utilização de espelhos (elementos importantes em relação ao foco temático do texto), valendo realçar a iluminação de Luiz Paulo Barreto. Entretanto, uma proposta como a de O Sósia é bastante determinada pelo rendimento dos atores e é nesse terreno que a montagem se sustenta de modo menos satisfatório.
Na noite da sessão conferida, Ricardo Ventura foi substituído pelo já mencionado Barreto. Como são poucos os atores em cena (três), a substituição, dependendo da maneira como for administrada, pode comprometer consideravelmente o resultado. O descompasso entre Daniel Archangelo e Luiz Paulo Barreto é visível: enquanto o primeiro revela fluência no texto e o segundo, apesar de buscar certa informalidade, permanece atado a um registro impostado. Aline França desponta mais como imagem do que como presença interpretativa.