Humor a partir dos contrastes
Ana Bello e Cristiano Gualda na nova montagem de Na Bagunça do teu Coração, cartaz do Teatro dos 4 (Foto: Divulgação)
Na Bagunça do teu Coração foi montado, na segunda metade da década de 90, pela dupla Claudio Botelho/Claudia Netto com resultado simpático graças ao carisma dos atores e à habilidade de João Máximo e Luiz Fernando Vianna em contar uma história convencional com considerável dose de originalidade. Os autores falam sobre os estágios da relação de um casal de namorados – desde o momento em que os dois se conhecem, numa noite de Réveillon, passando pela paixão, pelas desavenças, pelo afastamento e pela tentativa de retomada – através das canções de Chico Buarque.
Os autores investiram numa estrutura baseada nas perspectivas diversas dos namorados, identificados apenas como Ele e Ela, apresentadas separadamente ao público. Esta construção proporciona um exercício interpretativo aos atores, que oscilam entre o registro contido adotado para os personagens principais e as composições empregadas para diferenciar os tipos circunstanciais que atravessam as jornadas dos protagonistas. Nesse jogo, Anna Bello e Cristiano Gualda procuram cantar imbuídos dos personagens e evidenciam entrosamento em cena, ainda que o trabalho dele se destaque, em virtude das expressivas reações às situações propostas.
À frente dessa nova versão, Rafaela Amado, auxiliada pela direção musical de João Bittencourt, aposta no perfil de musical de bolso, formato bastante oportuno numa época em que os espetáculos do gênero tendem a se tornar cada vez mais grandiosos. A concepção cênica é modesta, funcional. A cenografia, a cargo de Teca Fichinski, é composta por cubos manipulados pelos atores que contêm objetos retirados ao longo da sessão. Os figurinos, também de Fichinski (em criação conjunta com Ianara Elisa), contrastam a discrição escolhida para os personagens centrais com os trajes exuberantes usados para caracterizar os caricatos coadjuvantes. A iluminação de Luiz Paulo Nenen colore o palco, quebrando com certa neutralidade do cenário e de parte dos figurinos. Além de Anna Bello e Cristiano Gualda, os músicos (João Bittencourt, Ajurinã Zwarg e Tássio Ramos) estão em cena, extrapolando as suas funções, tendo em vista que interagem, em dados instantes, com os atores.