Entre o consistente e o digestivo
Bruno Mazzeo na montagem em cartaz no Teatro do Leblon – Sala Marília Pêra: prova de versatilidade (Foto: Paula Kossatz)
O projeto de Sexo, Drogas e Rock’n Roll traz à tona uma espécie de tensão. Ao mesmo tempo em que parece frisar distância em relação ao escapismo do stand up através de uma reunião de pequenos textos (de Eric Bogosian) que realçam a falta de consciência política e social da elite e a assepsia do meio empresarial, o material serve como teste de versatilidade para um determinado ator, tendo em vista a possibilidade encontrada para criar tipos diversos.
Ator de recursos, Bruno Mazzeo dá vazão a figuras facilmente identificáveis, com destaque para a precisão na administração do descontrole físico do personagem com histórico de dependência química. As composições bem marcadas de corpo e voz contrastam, em alguma medida, com certa sobriedade na última passagem, quando fica mais sublinhado o desejo de estabelecer um afastamento entre o texto e um perfil digestivo.
A dramaturgia de Sexo, Drogas e Rock’n Roll tem potencial para incomodar e não se reduz, de fato, a uma proposta de interação vazia com o público, mas, como já se disse, também desponta como canal de comprovação do talento histriônico de um ator. Além disso, o universo descortinado por Bogosian soa reiterativo, como se confirmasse mais do que complementasse um quadro humano um tanto evidente desde os momentos iniciais.
Victor Garcia Peralta volta a demonstrar habilidade na condução de monólogos. Vale lembrar que boa parte dos trabalhos inseridos nesse formato que dirigiu visava à conexão direta entre plateia e cena, objetivo ao qual Sexo, Drogas e Rock’n Roll não se filia. Em todo caso, a distinção entre a montagem e uma vertente mais comercial ocorra mais na teoria do que na prática.
A encenação, sintética (a entrada de um assistente para mover uma cadeira é totalmente dispensável), surge revestida de uma simplicidade nem sempre muito expressiva, a julgar pelos painéis que integram a cenografia (de Dina Salem Levy). Os vídeos de Rico e Renato Vilarouca fornecem um panorama da contestação, de um modo de estar no mundo, por meio de imagens difíceis de serem apreendidas pelos espectadores.
miriam halfim
29 de agosto de 2013 @ 12:45
Análise cheia de propriedade. Clara, objetiva; acho até que vou assistir ao Bruno Mazzeo.