Dramaturgia que joga com o espectador
Gabriela Munhoz e Helena Varvaki em A Outra Casa, montagem em cartaz no Teatro Candido Mendes (Foto: Guido Argel)
A partir de dado instante de A Outra Casa, texto do dramaturgo norte-americano Sharr White (que desembarca em palcos brasileiros com tradução de Diego Teza), os acontecimentos até então relatados ao espectador ganham nova dimensão. Essa mudança de perspectiva se deve à revelação do estado de saúde da protagonista, a neurologista Juliana Smithton, que deixa de ser vista como fonte segura de informações, realçando ainda mais o fato de que a evocação do passado se dá por meio de uma interpretação pessoal das experiências.
O autor procura manter a atenção da plateia através de uma trama descortinada com habilidade à medida que a história avança. Há inegavelmente uma estratégia dramatúrgica em jogo, mas, de qualquer modo, o apelo de quebra-cabeças lançado ao público não se sobrepõe por completo à construção consistente de Juliana, qualidade perceptível pela maneira como, ao final, a personagem se define – destituída de inteireza, partida por tragédias que causaram uma espécie de corte radical em sua vida. Como Juliana, Helena Varvaki tem presença potente, sintonizada com o aqui/agora da cena. A atriz segue caminhos pouco previsíveis, estabelecendo embates instigantes com Alexandre Dantas (substituído por Marcos França nessa segunda temporada, no Teatro Candido Mendes – depois de passar pelo Centro Cultural da Justiça Federal), Gabriela Munhoz e Daniel Orlean (revezando com Rick Yates).
Dirigida por Manoel Prazeres, a montagem aposta na simplicidade, valorizando o texto e o ator. A cenografia de Doris Rollemberg é composta por estruturas verticais que servem às projeções. A iluminação de Renato Machado se destaca com a inclusão de tonalidades mais marcantes, de determinado momento do espetáculo em diante. Os figurinos de Leticia Ponzi conciliam, na roupa da neurologista, formalidade e certo despojamento. A trilha sonora de Rick Yates e Renato Alscher (Another Hot Brand) imprime alguma tensão ao desenvolvimento do enredo.