Drama convencional com acabamento profissional
Simone Zucato, Maria Fernanda Cândido, Selma Egrei e Reynaldo Gianecchini em A Toca do Coelho (Foto: João Caldas)
O dramaturgo David Lindsay-Abaire aborda, em A Toca do Coelho, o sofrimento decorrente de uma morte trágica. Um casal administra com natural dificuldade a perda do filho pequeno em atropelamento. Ambos são confrontados com a impotência diante dessa situação irremediável, com a presença do adolescente responsável (mas não necessariamente culpado) pela morte e com o funcionamento cíclico da vida, evidenciado com a perspectiva do nascimento de uma nova criança a partir do anúncio de uma gravidez.
Contudo, o autor não chega a dotar essa peça de maiores especificidades. Reedita, de maneira previsível, outros textos tanto em esfera temática quanto estrutural. O assunto não ganha um olhar diferenciado, original, a não ser talvez pelo fato de marido e mulher não confirmarem totalmente suas características iniciais. No começo, ele parece mais capaz de lidar com o luto. No decorrer do texto, porém, ela toma atitudes mais práticas na procura por formas para seguir adiante, mesmo assombrada pela morte do filho. Em relação à estrutura da obra, a própria decisão de retirar o título da peça de uma rápida história contada em dado momento – aparentemente desconectada do restante, mas inserida com o objetivo de sintetizar o estado dos personagens – é uma prova de apego ao lugar-comum.
Dan Stulbach, diretor da montagem em cartaz no Teatro do Leblon – Sala Fernanda Montenegro, reveste o espetáculo de uma bem-vinda atmosfera sóbria, ainda que o esforço para imprimir certa densidade realce, de algum modo, a fragilidade da peça que, vencedora do Prêmio Pulitzer, desembarca na cena brasileira com tradução e adaptação a cargo de Simone Zucato e Alessandra Pinho. Em todo caso, Stulbach conduz bem o elenco na busca por uma contracena fluente. Os atores falam ocasionalmente juntos, reconstituindo a informalidade da conversa íntima. Não fica a impressão de que os personagens ignoram uns aos outros; ao contrário, a sensação é a de que reagem à escuta.
Maria Fernanda Cândido empresta credibilidade à dor da mãe num trabalho destituído de arroubos melodramáticos. Reynaldo Gianecchini se revela verdadeiro no espírito conciliador do pai, apenas soando um pouco artificial nas passagens catárticas. Selma Egrei sublinha o perfil expansivo de uma personagem que contrasta com a discrição de quase todos. Simone Zucato constrói com correção a figura linear da irmã. Felipe Hintze projeta com propriedade a hesitação e a vulnerabilidade do adolescente. A cenografia de André Cortez – composta por recortes de ambientes da casa por onde os personagens transitam (a sala, o quarto do casal e o da criança falecida, a cozinha, o jardim), dispostos sem paredes divisórias e com as molduras destacadas – e os figurinos de Adriana Hitomi acentuam a elegância de um drama convencional encenado com competência.