Distância entre proposta e realização
Rose Germano em Frida Kahlo – A Deusa Tehuana (Foto: Renato Mangolin)
Em Frida Kahlo – A Deusa Tehuana – trabalho da Cia. Espaço Cênico que retornou em nova temporada no Teatro Glaucio Gill – parece haver a intenção de transmitir ao público um perfil diversificado da pintora mexicana, a julgar pela estrutura dramatúrgica (assinada pelo diretor Luiz Antônio Rocha e pela atriz Rose Germano) realçada pela construção cênica do espetáculo.
A montagem começa com Rose Germano interpretando Dolores Olmedo Patiño, que difundiu a obra de Kahlo e Diego Rivera. Após esse prólogo, Rose passa a transitar pelo espaço vestindo diferentes Fridas. A atriz procura representar facetas diversas da retratada, perspectiva reforçada por constante troca de roupa. No palco despontam a relação com Rivera, a sexualidade, as severas dores físicas e instantes mais solares de sua trajetória.
Mas o objetivo não é plenamente alcançado nem na dramaturgia e nem na interpretação, que uniformiza a figura de Frida Kahlo. Rose Germano demonstra adesão à proposta. Há um desejo de encarnar Kahlo, não no sentido da mera imitação, e sim no da evidenciação de um comprometimento entre atriz e personagem traduzido em considerável entrega física. Seu registro vocal, porém, é linear, monocórdico, destituído da potência necessária para valorizar cenicamente Kahlo.
Luiz Antônio Rocha concebe um cuidadoso desenho de cena, assume alguma ousadia (no que diz respeito à preservação de tempos eventualmente exasperantes), mas incorre em certo grau de obviedade (a exemplo do momento de inclusão do público por meio do desgastado recurso da projeção da plateia em espelho).
O cenário de Eduardo Albini é composto por uma grande mesa, cadeiras coloridas e molduras que, pela ausência de imagem, podem servir de estímulo à imaginação do espectador. Os figurinos, também de Albini, são irregulares (o primeiro, referente à Dolores, é menos satisfatório). A iluminação de Aurélio de Simoni delimita áreas no palco e destaca as marcações da atriz no chão. A trilha sonora de Marcio Tinoco (há a presença de um músico em cena) é discreta, em adequado tom menor.