Difícil trânsito entre contrastes
Os Ancestrais: parceria entre Grace Passô e o Grupo Teatro Invertido (Foto: Juliana Hilal)
FESTIVAL DE CURITIBA – Diretora e atriz do Grupo Espanca!, Grace Passô conduz outra companhia de Belo Horizonte, a Teatro Invertido, no projeto de Os Ancestrais, texto de sua autoria centrado na via-crúcis de moradores de baixa renda que, soterrados após o desabamento de suas casas, tentam sobreviver enquanto aguardam por socorro.
É possível perceber características do Espanca! nessa montagem, principalmente no que se refere à apresentação de uma circunstância trágica, mas cotidiana, e ao desprendimento dela por meio de uma abordagem metafórica, insinuada no título. Em Os Ancestrais, o contraste fica bastante presente, uma vez que a autora sublinha o real através da perspectiva social e econômica dos personagens.
Grace Passô, porém, transita com alguma dificuldade entre os extremos. Em relação ao plano realista, faltam dados concretos necessários para tornar crível a situação-base. Na verdade, a própria ausência de informações soa artificial. Os diálogos corriqueiros (marcadamente nos primeiros minutos) não foram muito burilados, comprometendo o trabalho dos atores (Dimitrius Possidônio, Kelly Crifer, Janaína Morse, Leonardo Lessa e Rita Maia). O retrato de personagens pouco abastados, desfavorecidos por um sistema injusto, é realçado de modo panfletário – a julgar pela preocupação, constantemente expressada, em não serem tratados de maneira hipócrita como heróis depois do resgate.
Já a suspensão da esfera do real é um tanto evidente, seja pela ambientação que remete de forma direta a um espaço apocalíptico (imponente cenário de Fernando Marés), seja pelo texto que frisa sem grande refinamento o desejo de alcançar um sentido maior (a exemplo da determinação em redimensionar o caos para além da situação específica dos personagens). Há, em todo caso, opções que merecem ser destacadas, como a iluminação (de Bruno Cerezoli), que investe em soluções simples e eficazes na produção de uma atmosfera de luz rarefeita.
O crítico viajou a convite da organização do festival.
Leonardo Lessa
10 de abril de 2013 @ 20:58
Olá, Daniel. Obrigado por suas palavras e pela análise sensível de nosso trabalho! Um abraço, Leonardo Lessa (Grupo Teatro Invertido BH/MG).