Criações integradas em cena
Suzana Nascimento e Otto Jr. em Preciso Andar (Foto: Dalton Valério)
Em Preciso Andar (tradução brasileira para Wanderlust), o dramaturgo Nick Payne destaca um casamento em crise, marcado pela crescente distância, e dois amigos que ensaiam um início de relacionamento a partir de iniciação sexual. Personagens circunstanciais (um antigo conhecido, uma amante) são inseridos para desestabilizar – ou, pelo menos, tirar da acomodação – o vínculo da primeira dupla. Payne traça retrato preciso dos personagens, imersos na tentativa de renovar o desgastado cotidiano conjugal ou em descobertas próprias da adolescência. O autor ainda chama atenção para certa influência de figuras e situações apenas mencionadas nas jornadas de seus personagens, carentes de mudanças, como o pedido do adolescente para que a amiga o ajude na abordagem sexual com outra menina; e o relato do marido à esposa, referente a uma proposta de relação aberta lançada por um amigo à mulher.
Ivan Sugahara assina uma montagem – que reestreou na Sede das Cias. após breve temporada na Caixa Cultural – que valoriza o texto e o trabalho dos atores. Cada intérprete projeta com nitidez as características de seus personagens: Suzana Nascimento, a impaciência da mulher; Otto Jr., a insatisfação do marido, bem como o esforço para reverter a burocrática vida conjugal; Fábio Cardoso, a curiosidade, a timidez e o constrangimento do adolescente; Beatriz Bertu, o discreto interesse da amiga; Cristina Lago, o frisson e o sofrimento da amante; e Tárik Puggina (seguindo uma linha mais exagerada, de composição um tanto sublinhada), o desejo de estabelecer um novo elo. Há notada integração entre a dramaturgia, a direção e as concepções da cenografia e da iluminação, no que diz respeito ao entrelaçamento entre os planos nos quais se encontram os personagens. O cenário de Aurora dos Campos e a luz de Tomás Ribas evidenciam que os planos repercutem, reverberam uns nos outros – mesmo que não necessariamente de forma explícita. Os figurinos de Ticiana Passos e a trilha sonora, a cargo de Sugahara, também conferem unidade a esse espetáculo que cumpre simpática presença na cena carioca.