Convencionalmente correto
Mariana Mac Niven e Claudio Mendes em Educando Rita (Foto: Otavio Mac Niven)
Educando Rita reúne questões próprias da dramaturgia de Willy Russel (autor também lembrado por Shirley Valentine, outro de seus textos montados no Brasil) – em especial, a conquista do livre-arbítrio por uma mulher que alarga seus horizontes ao romper, aos poucos, com uma vida conjugal um tanto estagnada. O desejo de Rita, como a personagem se denomina no início, de se aprimorar nos estudos a leva em direção ao crescente conhecimento de si mesma.
Inspirada em Pigmaleão, de George Bernard Shaw, a peça tem estrutura formada pela sequência de encontros semanais travados entre professor, Frank, e aluna, a já mencionada Rita. Primeiro cabe a Rita vencer a resistência de Frank, motivado apenas pelo álcool; a tenacidade da aluna, contudo, contamina o professor, que hesita, porém, em acabar reprimindo a espontaneidade dela por meio das leis acadêmicas. Russel traça caloroso painel humano, mas seu texto (adaptado para o cinema por Lewis Gilbert) resulta algo repetitivo e previsível. É possível antecipar o desdobramento da relação entre Frank e Rita e, particularmente, determinadas situações, como a da reação do professor ao ter um texto seu avaliado pela aluna e a cena final. Os problemas dramatúrgicos são agravados pela desnecessária transposição da ação para o Rio de Janeiro, realizada provavelmente a partir do injustificado temor de que, se mantida em seu lugar de origem, a história poderia ficar distante do espectador brasileiro. Em contrapartida, há referências – como a A Gaivota, peça de Anton Tchekhov, e Howards End, romance de E.M. Forster – que soam saborosas.
Claudio Mendes dirige o espetáculo, que encerra temporada no Teatro Café Pequeno no próximo domingo, com correção convencional. Valoriza o texto – evidenciando suas limitações – e o trabalho dos atores. Os personagens são interpretados por Claudio e por Mariana Mac Niven. A atriz carrega no desenho popular de Rita, mas dosa a composição ao longo da apresentação, enquanto o ator transita com mais organicidade pelos estados do professor, cada vez mais receoso diante da perspectiva da partida da aluna. O cenário de Arlete Rua, Carlos Alberto Nunes e Paula Cruz reconstitui com certo detalhamento o escritório caótico de Frank. O trio assina ainda os figurinos, que “definem” os personagens de acordo com suas personalidades e condições sociais diversas, assinalando a mudança de perfil de Rita no decorrer do tempo. A iluminação de Paulo César Medeiros complementa de modo preciso a ambientação. E a trilha sonora de Alessandro Perssan imprime um toque de humor.