Constante estado de suspensão
Liliane Rovaris em Plano sobre Queda, montagem de Miwa Yanagizawa para o texto de Emanuel Aragão (Foto: Divulgação)
Emanuel Aragão destaca, em Plano sobre Queda, a estrutura de seu texto, não como um mero apego a um formalismo, mas como um elemento relacionado às personagens. Em cena, os atores transitam entre o momento em que são atravessados, afetados, pelos acontecimentos, e o da narração, distanciada, descolada, de vivências, quando observam a própria trajetória em perspectiva.
Os atores fazem menção a uma sucessão de prólogos, como se os desenvolvimentos fossem sempre abortados. Esse dado se conecta a jornada de uma das personagens, precocemente confrontada com a morte anunciada. É um gancho um pouco mais tradicional dentro do texto, no sentido de que oferece ao público, desde o início, um determinado fio condutor ou, pelo menos, estimula algum grau de expectativa. Mas a falta de continuidade também transparece nos diálogos de fluxo constantemente interrompido devido a um desencontro de entendimento entre aquele que fala e o que escuta. Esse descompasso gera certos constrangimentos, estados de suspensão preenchidos pelos atores.
A diretora Miwa Yanagizawa conduz o elenco pela trilha da não representação, do trabalho de construção ocultado diante do público, registro que os atores exercem com segurança (Breno Nina, Camila Márdila e, em especial, Liliane Rovaris). Há uma simplicidade intencional na montagem – que encerrou temporada no Teatro de Arena do Espaço Sesc –, bem evidenciada nos utilitários e concretos objetos que integram a cenografia, de Yanagizawa, destituída de qualquer traço de vaidade.
Ainda que se alongue além do necessário, Plano sobre Queda suscita oportuna reflexão em torno da impossibilidade de reter o tempo, de dominar o desenrolar da história, de manter inalterada a experiência amorosa.