Confirmação de direcionamento
Joaquim Lopes e Yasmin Gomlevsky em Anti-Nelson Rodrigues, em cartaz no Teatro 3 do Centro Cultural Banco do Brasil (Foto: Páprica)
De certo modo, Bruce Gomlevsky vem caminhando numa contracorrente em relação ao panorama da cena do Rio de Janeiro ao priorizar um teatro pautado pela consistência dramatúrgica, tanto no que se refere a textos clássicos ou a contemporâneos, em espetáculos realizados dentro de sua companhia, a Esplendor, e também nos dissociados do grupo. A atenção destinada ao texto e aos atores, contudo, não se sobrepõe a determinada concepção de encenação. A montagem de Anti-Nelson Rodrigues – peça mais esperançosa e pouco lembrada em meio à obra do celebrado autor, escrita sob encomenda para a atriz Neila Tavares – confirma essas características frequentes nos trabalhos do diretor.
Bruce Gomlevsky procura aproximar a encenação do público, sem, porém, se valer de interação direta. Esta condução fica clara ao investir em marcações frontais – nas quais os atores/personagens contam pequenas histórias (como Leleco, ao relatar o assassinato da mãe pelo próprio pai) ou sublinham frases (“o sexo só faz canalhas”, conclui Salim Simão, figura recortada da realidade que evoca o vínculo de Nelson Rodrigues com o jornalismo, numa das diversas contundentes tiradas do autor) – devidamente frisadas pela iluminação (de Luiz Paulo Nenen). Há uma tendência à exacerbação, mas o espetáculo resulta melhor nos momentos em que busca a contenção, a exemplo da forma suave com que a música (direção musical de Mauro Berman, tocada ao vivo pelo pianista Francisco Pons, que permanece em cena de maneira adequadamente discreta) emoldura a montagem.
Em todo caso, as criações que integram o espetáculo realçam assinaturas. O cenário de Pati Faedo é composto por uma espécie de palco suspenso de madeira gasta e por reduzidos objetos – incluídos e subtraídos a cada final de cena. Ao redor desse plano há elementos de maior porte (cama, piano) e rosas vermelhas (tradicionais na sugestão de passionalidade). A já mencionada iluminação individualiza os personagens e se mostra mais expressiva quando revela opção pela penumbra do que pela luz aberta. No elenco, cabe destacar Tonico Pereira, que, favorecido por interpretar os personagens com as melhores falas, surpreende com divertidas quebras de tom, mesmo que dentro de seu habitual registro de atuação; e Joaquim Lopes, que tem presença fluente e imprime colorido às frases.