Clássico em expressiva roupagem
Atores interpretam personagens femininas em nova montagem de texto de Oscar Wilde (Foto: Dalton Valério)
Entre os espetáculos assinados por Daniel Herz, A Importância de ser Perfeito parece se conectar, especialmente, com Ensaio de Mulheres, apropriação da obra de Jean Anouilh. Nas duas montagens, o diretor investiu em operações sobre o material (na anterior, a inserção de depoimentos dos atores; na nova, o transporte da ação do final do século XIX para os dias de hoje) e conduziu o elenco na interpretação de personagens femininas.
Nessa encenação – que encerra rápida temporada na Caixa Cultural no próximo domingo e tem retorno agendado para agosto, no Teatro Maria Clara Machado –, Daniel Herz e Leandro Soares (integrante do elenco e responsável pela tradução e adaptação do texto) transferiram a história para a Copacabana do século XXI. O objetivo está em frisar a perpetuação do jogo social descortinado por Oscar Wilde, evidenciado por personagens que não perdem de vista a cartilha aristocrática em seus relacionamentos, numa época, como a de agora, que realça as aparências. Entretanto, essa ligação poderia ser feita pelo público sem a viagem temporal, que não chega a propor uma leitura original da peça.
Felizmente, a atualização não surge estampada em todo o espetáculo, realizado em parceria pela Companhia Atores de Laura e pelo ColetivoAchadoNumaMala. A despreocupação em sublinhar o contexto demarcado na adaptação suaviza a abordagem do texto de Wilde. Os figurinos de Thanara Schönardie são bonitos e muito criativos, revelando excelente trabalho a partir da sobreposição de tecidos diversos em tons neutros (e com ótimo aproveitamento da cor), valendo destacar também a singularidade dos adereços (colares, chapéus, bolsas) e o belo painel transparente que encobre a banda. A iluminação de Aurelio De Simoni lança focos sobre os poucos elementos de cena (cinco cadeiras e um carrinho – cenografia sintética, mas adequada, de Nello Marrese) e oscila entre a luz aberta de comédia e tonalidades intensas nas intervenções da banda. Os atores – Anderson Mello, George Sauma, João Pedro Zappa, Leandro Castilho, Leandro Soares, Marcio Fonseca, Pedro Tomé e Samuel Toledo –, mesmo com eventuais exageros, não enveredam pela caricatura e demonstram domínio cênico que diverte a plateia.