Apreciável espaço para a contenção
Isio Ghelman, Pedro Neshling e Paula Burlamaquy em A Estufa (Foto: Arthur Vianna)
Ary Coslov vem se dedicando à direção de montagens realizadas a partir de peças de Harold Pinter, a exemplo das encenações de Traições e Pinteresco. A Estufa simboliza um novo capítulo em sua investigação da obra de Pinter. Como de hábito na dramaturgia do autor inglês, explicações são suprimidas (recurso que estimula a imaginação do espectador), mesmo que essa peça traga elementos mais concretos: a presença de uma trama mais evidenciada, disposta em ambiente algo macabro e envolta em teor político. A intimidade com o universo de Pinter levou Coslov a também assinar a tradução do texto, em parceria com Isio Ghelman.
A montagem, atualmente em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, tem concepção cenográfica simples (a cargo do próprio Coslov), marcada pelo realce de uma certa crueza, a julgar pela imagem do palco descarnado, exposto em sua estrutura. Nos figurinos (de Biza Vianna) imperam cores neutras, sóbrias. A iluminação (de Aurélio de Simoni) valoriza a expressividade dos atores, propondo gradações interessantes ao longo da apresentação. Chama atenção ainda o trabalho de preparação corporal do elenco, não creditado no programa.
Em relação ao registro interpretativo, pode-se perceber uma tendência à exacerbação, caminho perigoso na medida em que coloca o ator diante do risco do estrangulamento (no sentido de não ser mais possível evoluir em termos de tonalidade). Esta questão desponta na atuação de Mario Borges, mas o ator demonstra apreciável controle técnico que o permite dominar essa opção. Seja como for, o principal destaque do elenco é Isio Ghelman, bastante preciso na contenção.