Abordagem atada ao conhecido
Fernando Bohrer e Livia Paiva na montagem de Elefante
A discussão referente ao contraponto entre o desejo de apreender a “eterna juventude” e a aceitação da passagem do tempo é constante nos dias de hoje. Partindo de argumento de Igor Angelkorte (também diretor da encenação e integrante do elenco), Elefante, montagem da Probástica Companhia de Teatro, traz à tona esse “tema”, mas sem lançar um olhar propriamente novo.
Walter Daguerre, autor do texto, incorre num lugar-comum e numa abordagem algo piegas ao louvar o envelhecimento natural – associado à disposição a viver intensamente e à amadurecida percepção da morte – em detrimento dos mecanismos artificiais empregados com o intuito de perpetuar a existência – precaução que tende a levar ao aprisionamento num cotidiano cristalizado. As eventuais citações (a ilha para onde vai o protagonista à cata de experiências autênticas, verdadeiras, tem o sugestivo nome de Sêneca) e a paulatina revelação da situação-base não tornam a peça original. O dramaturgo se vale de recursos conhecidos, como o de inserir uma pequena – e representativa – história que, não por acaso, intitula o texto.
O espetáculo, em cartaz no Sesc Copacabana, é emoldurado por instigante concepção estética, cabendo destacar a cenografia de André Sanches, que conecta a questão em pauta com o universo primitivo, e a iluminação de Renato Machado, que, ao diminuir gradativamente a luz até a penumbra, faz com que o público experimente as limitações do personagem envelhecido. No elenco, Chandelly Braz (revezando no papel com Julia Lund) evidencia propriedade no modo de dizer o texto da mãe, estabelecendo contracena fluente. Pedro Nercessian (revezando com Angelkorte) administra bastante bem o entusiasmo juvenil do personagem sem reduzi-lo à linearidade. Fernando Bohrer procura equilibrar a permanência do fascínio diante da vida com a fragilidade física. Samuel Toledo busca a contenção e a autoridade próprias do personagem. Lívia Paiva se esforça para imprimir certo grau de pragmatismo, mas é prejudicada pela ausência de uma voz mais potente.
Apesar das restrições, Elefante representa a continuidade do trabalho da Probástica – que apresentou bom resultado em (Des)conhecidos, que contava com Angelkorte, Braz e Toledo – e da atividade de um dramaturgo promissor, Daguerre.