A síntese do excesso
Aline Fanju e Erom Cordeiro em Decadência (Foto: Paula Kossatz)
Os personagens do texto do dramaturgo inglês Steven Berkoff são excessivos. O autor apresenta-os como símbolos de uma aristocracia arrogante e hipócrita, compulsivos nas relações sexuais imediatistas e no uso de drogas, amorais, corrompidos, irremediavelmente decadentes – como anuncia o título da peça, escrita no começo da década de 1980, e sugere a imagem da cena final dessa nova montagem de Victor Garcia Peralta, em cartaz até o próximo domingo no Sesc Copacabana, que se debruçou sobre a mesma obra nos anos 1990.
Os dois casais revelam derrocada de valores, ainda que haja diferenças mais perceptíveis nos personagens masculinos que nos femininos, seja pela classe social distinta, seja pela interpretação de Erom Cordeiro, mais colorida que a de Aline Fanju. Cordeiro propõe variações, modulações, não só na entonação do texto como na maleabilidade corporal, sinais de seus recursos, enquanto Fanju, melhor no desenho físico que no manejo das palavras, surge em atuação mais plana, menos nuançada.
O excesso dos personagens contrasta com o caráter sintético da dramaturgia, traduzida por Maria Adelaide Amaral e Leo Gilson Ribeiro, e da encenação, tendo em vista o desafio de versatilidade lançado aos dois atores (compor quatro personagens) e a cenografia (de Dina Salem Levy) reduzida a um sofá. Boa parte do palco fica livre para a “evolução” dos atores. A presença física nesse espaço quase vazio foi claramente construída, a julgar pela evidente importância destinada à direção de movimento de Marcia Rubin.
A tensão entre síntese e excesso também transparece nas demais criações, nem sempre muito inspiradas. Carol Lobato, que assina os figurinos, opta pela neutralidade do preto, mas investe em traje elegante, discreto, para o personagem masculino e tradicionalmente sensual, insinuante, para o feminino. Felipe Lourenço distingue, por meio da iluminação, os dois planos do texto de maneira um tanto explícita, marcada. Átila Calache e Erom Cordeiro acentuam, através da trilha sonora, a frivolidade dos personagens.
Luiz fernando Guedes Gallego Soares
28 de agosto de 2016 @ 02:04
Esta peça já não foi montada antes no Rio, no falecido Teatro Glória, com Beth Goulart e Guilherme Leme?
danielschenker
28 de agosto de 2016 @ 14:02
Sim. Nos anos 1990.