A descoberta do mundo
Pedro Brício, Renato Linhares, Isabel Gueron, Inez Viana e Thiare Maia Amaral em Nu com Botas (Foto: Renato Mangolin)
A versão teatral de Nu com Botas, que encerra temporada no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil no próximo domingo, preserva o que parece ter sido a intenção principal de Antonio Prata em seu livro: transmitir o sabor da descoberta do mundo por meio da descrição do cotidiano da infância. Se por um lado o autor aborda as particularidades, os acontecimentos específicos, de seus primeiros anos de vida, por outro destaca o fascínio pelo novo como elemento comum aos que atravessam essa fase.
Cristina Moura, diretora e responsável, com Pedro Brício, pela dramaturgia da montagem, realça justamente a infância como um momento de sintonia, de compartilhamento de experiências, ao fazer com que os atores – além de Brício, por Inez Viana, Isabel Gueron, Renato Linhares e Thiare Maia Amaral – se incluam no texto de Prata, em certos instantes até diretamente ao mencionarem os próprios nomes e fragmentos de vivências. Os atores se reconhecem na obra de Prata. Não se apropriam de material estranho, pouco familiar. Não por acaso, demonstram naturalidade e integração em cena, formando um conjunto harmônico, destituído de desníveis.
Talvez falte ao espetáculo, algo linear, a intensidade passional dos arroubos da infância, período voltado para a necessidade de desvendar interioridades, simbolizada por atos banais, como o de riscar a parede, iniciado acidentalmente, conforme relatado. A cenografia da Radiográfico, que distribui pelo palco objetos domésticos encapados, soa indefinida, entre a evocação do real e a suspensão dessa dimensão. Restrições à parte, Nu com Botas é uma encenação que corre fluente e estabelece interação com o público.