A derrocada do jogo social
Gisela de Castro, Ricardo Gonçalves e Verônica Reis em Os Sapos, em cartaz no Galpão das Artes do Espaço Tom Jobim (Foto: Clara Linhart)
Com nome firmado no campo da dramaturgia infanto-juvenil, Renata Mizrahi segue se exercitando no chamado teatro adulto com textos como Os Sapos. Nesse trabalho, reúne personagens insatisfeitos com os relacionamentos nos quais estão enredados a ponto de não conseguirem mais disfarçar socialmente a infelicidade. As mulheres, em especial, despontam em cena como figuras transbordantes, incapazes de ocultar a decepção ou a claustrofobia oriunda de vínculos autoritários por trás do jogo de aparências.
A autora revela habilidade na apresentação dos personagens e dos conflitos, ainda sufocados na primeira metade, potencializados pela presença de uma nova integrante na rotina de dois casais numa área isolada, de difícil acesso. No entanto, à medida que as divergências vão sendo descortinadas e os embates, explicitados, o quadro se torna previsível. Mizrahi incorre em redundância, a exemplo da dispensável cena final que apenas reitera o que fica claro na penúltima. O mistério decorrente do não-dito perde espaço. Talvez pelo fato de acumular a direção (juntamente com Priscila Vidca), Renata Mizrahi tenha permanecido muito colada ao material original, sem a necessária dose de distanciamento em relação à peça.
As diretoras problematizam, em certo grau, o caráter realista de Os Sapos ao suprimirem determinados elementos (comida e bebida) e investirem numa concepção cenográfica (de Lorena Lima e Nello Marrese) que insinua a região descrita no texto – a casa, sintetizada na cozinha, e o ambiente externo – sem, porém, procurar “materializá-la”. Gisela de Castro, Peter Boos, Ricardo Gonçalves e Verônica Reis emprestam credibilidade a personagens que não chegam a se impor como multifacetados. Paula Sandroni se destaca como uma personagem algo enigmática, pelo menos até o momento em que seu drama é evidenciado.