A construção de um encontro
Georgiana Góes em Pequenos e Grandes Gestos de Despedidas
O projeto do Home Theatre – Festival Internacional de Cenas Curtas, idealizado pelo diretor Marcus Vinicius Faustini, consiste na apresentação gratuita de cenas de cerca de 20 minutos em casas de moradores de bairros localizados em regiões diversas do Rio de Janeiro. Composto por convidados da produção do projeto, do morador e por espectadores sorteados no site do festival, o público é deslocado de um espaço público, instituído, e inserido num privado, que pode tanto gerar sensação de acolhimento quanto de estranheza.
A plateia fica inevitavelmente próxima do ator, característica ainda mais realçada no caso de Pequenos e Grandes Gestos de Despedidas, cena mostrada num cômodo de apartamento para apenas um espectador por vez. Uma proposta que defende a apreciação qualitativa opondo-a a uma perspectiva quantitativa. O espectador é disposto diante da atriz, que relata experiências amorosas que, verídicas ou não, passaram por inevitável processo de ficcionalização. Afinal, a experiência relatada se torna ficcional, na medida em que a lembrança vem à tona por meio de acréscimos e subtrações em relação aos acontecimentos vivenciados. E especificamente nesse projeto, o ator, e não tão-somente o espectador, se coloca numa circunstância singular.
Em Pequenos e Grandes Gestos de Despedidas, Faustini promove uma tensão entre a desconstrução do ato teatral tradicional, especialmente sublinhado através de um contato personalizado entre espectador e ator, e o destaque à construção da cena, que não é ocultada daquele que assiste. A concepção está à vista, no que se refere aos elementos cenográficos (um jarro com girassóis, uma pequena mesa vermelha), ao figurino (duas camisas que formam um jogo de espelhamento, cuja equivalência atrita, de modo interessante, com um momento do texto, em que a atriz afirma que cada componente do relacionamento ganhou individualidade) e à presença do iluminador.
O registro de atuação não caminha exatamente na direção de uma não-interpretação, por mais que seja possível perceber a busca por uma naturalidade. Mas é claro que se trata de uma atriz. Não só pelo fato de Georgiana Góes ser identificada por outros trabalhos como pelo domínio em cena, evidenciado nas modulações que imprime ao texto e na fala concreta, decorrente da preocupação em construir imagens para o que é dito. Nessa proposta calcada na proximidade, a interação com o espectador (a atriz entrega um objeto, faz perguntas esperando por eventuais respostas, pede que feche o olho) não assume um teor impositivo.