A cidade ganha a cena
Cena de Concreto Armado, encenação de Diogo Liberano que encerra temporada no Sesc Copacabana (Foto: Divulgação)
Em Concreto Armado (montagem que, após integrar a programação do Festival de Curitiba, encerra temporada no próximo domingo no Sesc Copacabana), Diogo Liberano se mantém no universo temático de seus últimos trabalhos, a julgar pela presença da cidade como personagem fundamental dentro da dramaturgia e do ambiente estudantil – destacados em Sinfonia Sonho, uma das encenações anteriores da companhia Teatro Inominável, inspirada no massacre ocorrido numa escola de Realengo, em 2011.
Nessa peça, assinada em parceria com Keli Freitas, Liberano se debruça, de forma mais frontal, sobre o contexto atual, principalmente no que se refere às circunstâncias relacionadas à Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Mas os autores, apesar de motivados pelo aqui/agora, enfocam o presente como decorrência de um processo histórico e não como instância recortada no tempo.
O entrelaçamento entre tempos diversos é realçado pela inclusão do plano da narração, a cargo da professora da pós-graduação em arquitetura e urbanismo que orienta e se compromete com a pesquisa de um grupo de alunos. A ambição reside em transcender o campo teórico na abordagem de espaços emblemáticos do Rio de Janeiro nos dias de hoje – além do Maracanã, Cais do Porto e Escadaria Selarón (com citação à performance Jardins Portáteis, realizada pela atriz Cristina Flores, na Sede das Cias.) são mencionados.
Os personagens têm suas trajetórias diretamente afetadas pelos acontecimentos da cidade. A conexão parece, em alguma medida, questionável, considerando que o panorama social, político e econômico talvez não determine por completo a esfera pessoal, subjetiva. Não se pode esquecer, porém, que o indivíduo obviamente não vive desvinculado de sua época e que os personagens dessa peça são unidos por um projeto comum ligado à cidade.
Como em Maravilhoso, montagem concebida a partir de texto de Diogo Liberano, em Concreto Armado sobressai certo descompasso entre o modo de dizer e efetivamente o que se diz. A habilidade na estruturação da peça (evidenciada, em especial, em Maravilhoso) e na construção da cena minimiza, no caso desse novo espetáculo, um possível teor panfletário e uma eventual inconsistência no desenvolvimento dos temas. Liberano conduz bem um elenco harmonioso formado por Adassa Martins, Andrêas Gatto, Caroline Helena, Flávia Naves, Gunnar Borges, Laura Nielsen e Marina Vianna.