Ausência de uma abordagem específica
Monique Franco, Guida Vianna e Camila Nhary: embates passionais (Foto: Paula Kossatz)
O dramaturgo David Eldridge traz à tona, em O Nó do Coração, um concentrado de conflitos familiares a partir da desestabilização provocada pelo envolvimento de uma jovem com as drogas. A mãe se esforça para salvá-la de uma jornada autodestrutiva, enquanto a outra filha lança ar de superioridade por se sentir desfavorecida no quadro afetivo. O tom seco (e, até certo ponto, austero) que marca os embates passionais do trio desponta, possivelmente, como o elemento mais curioso de um texto que não chega a apresentar uma nova perspectiva acerca do universo temático abordado.
Há notadamente o desejo de investir na dramaturgia, no trabalho das atrizes e no acabamento cênico, características que fazem de O Nó do Coração um projeto dotado de algum refinamento. Entretanto, a fragilidade do texto limita o resultado. O elenco fica atado a personagens pouco multifacetadas. Em todo caso, Guida Vianna empresta energia e vigor à mãe e Monique Franco e Camila Nhary constroem as filhas de modo crível. Daniel Granieri não imprime contornos mais específicos em relação aos seus personagens e a intervenção de Fernanda Thuran é bastante circunstancial.
Sem também revelar um olhar propriamente autoral sobre o material, o diretor Guilherme Leme concebe, porém, uma cena sintética bem disposta no palco do aconchegante Teatro Eva Herz, recentemente inaugurado. A cenografia, do próprio diretor, é uma simpática evocação de jardim, com gramado e poucas cadeiras, espaço onde os desencontros se sucedem. Os figurinos de Ana Roque apostam no monocromático de maneira expressiva. A iluminação de Tomás Ribas potencializa a dificuldade de comunicação entre as personagens ao isolá-las, em diversos momentos, em ilhas de luz. A trilha sonora de Marcelo H. é interessante em si, mas algo impositiva, como se procurasse, em certa medida, produzir atmosferas de forma artificial.