Saga com final feliz

Tania Brandão, organizadora do livro, durante o lançamento realizado no Festival de Curitiba (Foto: Annelize Tozetto)
A publicação de Pum!, burleta de Artur Azevedo e Eduardo Garrido, é resultado da tenacidade da pesquisadora, professora e crítica de teatro Tania Brandão, que há mais de 15 anos começou a procurar esse texto. Ao longo do tempo, realizou extensa jornada investigativa. Descobriu que os manuscritos pertenciam ao ator Labanca, que doou à atriz Fernanda Montenegro, que, por sua vez, presenteou o crítico Sábato Magaldi em sua posse na Academia Brasileira de Letras (ABL). Foi com Sábato que Tania conseguiu uma cópia do texto – na verdade, uma cópia da cópia –, material a partir do qual trabalhou, em parceria com o professor Diógenes Maciel, na organização do livro, que também conta com fortuna crítica referente às encenações do texto, caderno de imagens e estudo introdutório assinado por Tania. O livro (editado pela Papel da Palavra), que já foi lançado no Mezanino do Espaço Sesc e durante o Festival de Curitiba, terá nova noite de autógrafos, marcada para segunda-feira, dia 14, na Livraria Janela (R. Maria Angélica, 171B), às 19h.
Como conseguiu ter acesso ao texto?
TANIA BRANDÃO – Comecei a procurar o texto em 2008 por causa do centenário de morte de Artur Azevedo. Soube que fizeram, em 1999, uma montagem infanto-juvenil. Falei com Claudia Ventura, que participou do espetáculo e me indicou os profissionais que estiveram à frente do projeto. Eles informaram que tiveram acesso ao manuscrito – que, originalmente, pertencia a Labanca, que doou a Fernanda Montenegro. Ela cedeu ao grupo, que fez uma cópia e devolveu. Entrei em contato com Fernanda, que disse não ter mais o manuscrito porque havia doado a Sábato Magaldi quando ele entrou para a Academia Brasileira de Letras (ABL). Sábato, por sua vez, destinou o texto à ABL. Busquei, então, na ABL, mas o texto não estava mais lá. Soube que os acadêmicos podem retirar os livros da biblioteca sem controle por parte da instituição. Mas Sábato havia feito uma xerox, que me emprestou para que eu tirasse uma cópia.
Como foi o trabalho a partir dessa cópia?
A partir da cópia da cópia, eu e Diógenes Maciel reproduzimos o texto o mais fielmente possível. Alguns pequenos trechos ficaram indecifráveis. Agora estou me dedicando a um estudo do manuscrito enquanto história da cena. Quero fazer um levantamento das montagens desse texto no Brasil e em Portugal, onde houve uma.
Quais são os elementos diferenciais de Pum! em relação ao restante da obra de Artur Azevedo?
O principal é a ousadia. Pum! é um texto que incomoda. O título é muito irreverente. Traz um certo desconcerto. Apesar de Azevedo ser muito respeitado, há quem considere a peça imoral. Além disso, é difícil separar a criação de Azevedo da de Eduardo Garrido. Azevedo tem habilidade com o humor, a paródia, elementos muito refinados em Pum! O texto possui uma acidez maior que outros escritos dele. Mas é uma comédia romântica sobre dois jovens que enfrentam a oposição de um pai que tem interesse econômico em casar a filha com outro homem.
Acha que a realidade ganha mais destaque nesse texto, que traz à tona a Revolta da Armada, do que em outros de Artur Azevedo?
É como se esse texto tivesse contaminação da revista de ano, gênero que lida com fatos históricos. Mas Pum! soa mais contundente porque está ligada a um acontecimento que se constituiu como ameaça de bombardeio ao Rio de Janeiro.
A edição de Pum! é complementada com fotos do Rio de Janeiro na época em que a história se passa. Teve dificuldade em encontrá-las?
Primeiro descobri, na Biblioteca Nacional, que o Instituto Moreira Salles (IMS) é detentor dos direitos das fotos. O IMS está fechado e não consegui retorno por parte da instituição. Aí achei na internet fotos no site da Marinha. Entrei em contato e foram maravilhosos. Cederam todas as imagens que pedi. Tive que restringi-las no livro para reduzir um pouco os custos da edição.
Além de Pum!, você busca outro texto?
Persigo, desde os anos 1980, um texto chamado A República, de Aluísio e Artur Azevedo, uma revista referente ao ano de 1889. É um texto perdido. Não temos mais comércio de manuscritos teatrais nos sebos e leilões no Brasil. Em Portugal ainda é possível encontrar.