Atuações significativas

Cassio Scapin e Amanda Acosta em Insisgnificância, montagem dirigida por Victor Garcia Peralta (Foto: João Caldas)
A partir do encontro fictício entre quatro personagens da vida pública – o cientista Albert Einstein, a atriz Marilyn Monroe, o jogador de beisebol Joe DiMaggio e o senador Joseph McCarthy –, o dramaturgo Terry Johnson aborda, em Insignificância – Uma Comédia Relativa, questões diretamente ligadas (ou não) ao contexto político que destaca: o macarthismo, a caça às bruxas que assolou Hollywood na década de 1950 por meio de perseguição a muitos artistas acusados de conexão com o comunismo.
O controle e a repressão à difusão do conhecimento foram praticados pelo macarthismo, que surge na peça através do embate entre McCarthy, responsável por liderar a prática opressiva e violenta, e Einstein. Já Monroe desponta mais como personagem vítima da exploração abusiva da indústria cinematográfica, uma estrela absoluta atravessada por base emocional bastante frágil, dado que transcende uma localização histórica determinada.
Uma montagem como a de Insignificância ocupa um lugar singular no panorama ao colocar o público em contato com uma verborragia cada vez mais escassa nos apressados dias de hoje. Essa disposição em caminhar numa contracorrente, conciliando o investimento em dramaturgia consistente com as condições do mercado teatral, parece mover Victor Garcia Peralta como diretor, a julgar pelas escolhas que costuma fazer (ou pelos convites que costuma atender).
No entanto, o texto de Johnson, traduzido por Gregório Duvivier, carece um pouco de foco. Mostrar as celebridades como seres humanos fragilizados ou, pelo menos, conscientes de suas agruras é abrangente. Chamar atenção para a pequenez dos indivíduos diante de tragédias mundiais (o Holocausto, a bomba de Hiroshima e Nagasaki) ou, ao contrário, expor a influência decisiva de pessoas perversas ou mal-intencionadas quando contempladas com poder desmedido também não são recortes propriamente específicos.
Além disso, Johnson nem sempre consegue sustentar o interesse por meio do diálogo, a exemplo da esgarçada conversa entre Einstein e Monroe numa das primeiras cenas. O autor estrutura o texto através de conflitos ou interações entre dois personagens e, à medida que as situações se acirram, inclui um terceiro ou quarto nessa dinâmica, momentos em que a peça ganha mais força.
Mas o maior atrativo do espetáculo é o rendimento do elenco, que interpreta personagens reais com acentuadas cargas de caracterização, sem, porém, enveredar por estereótipos. Cassio Scapin, como Einstein, demonstra pleno domínio da palavra, Amanda Acosta, como Monroe, não adere ao risco da composição óbvia, Marcos Veras, como DiMaggio, transmite a desestabilização afetiva escondida por trás da postura truculenta, e Norival Rizzo, como McCarthy, ainda que ocasionalmente falando rápido demais, dimensiona o caráter maquiavélico e preconceituoso do senador.
A concepção visual do espetáculo resulta de uma conjugação entre simplicidade e elaboração. No palco do Teatro Adolfo Bloch a cenografia de Chris Aizner traz a ambientação do quarto de hotel onde Einstein está hospedado, na Nova York de 1953. Há basicamente uma cama e uma ampla janela que descortina a paisagem da cidade, sugestão realista às vezes alternada com outras projeções. Os figurinos de Fabio Namatame definem os perfis de cada personagem – os diferentes graus de formalidade nas vestimentas de McCarthy e DiMaggio, o traje desconstruído de Einstein e o famoso vestido de Monroe lembrado pela emblemática sequência de O Pecado Mora ao Lado (1955), de Billy Wilder. A iluminação de Beto Bruel acompanha a variação de intensidade das cenas.
Insignificância – Uma Comédia Relativa, apesar das restrições que possam ser feitas ao texto algo genérico na delimitação temática e alongado em certas passagens, diversifica a temporada no Rio de Janeiro.
INSIGNIFICÂNCIA – UMA COMÉDIA RELATIVA – Texto de Terry Johnson. Direção de Victor Garcia Peralta. Com Cassio Scapin, Amanda Acosta, Norival Rizzo e Marcos Veras. Teatro Adolpho Bloch (R. do Russel, 804). Sex. e sáb., às 20h, dom., às 18h. Ingressos: Plateia A – R$ 130,00 e R$ 65,00 (meia-entrada); Plateia B – R$ 40,00 e R$ 20,00 (meia-entrada).