Cinema da familiaridade e do afeto
André Novais Oliveira, um dos homenageados na 27ª edição da Mostra de Tiradentes (Foto: Leo Lara)
Homenageado na Mostra de Tiradentes, ao lado da atriz Barbara Colen, o cineasta André Novais Oliveira teve sua produção de curtas e longas-metragens apresentada no evento, parte presencialmente, parte virtualmente. Integraram a programação filmes como o aclamado e premiado Ela Volta na Quinta (2014) e o ainda inédito O Dia que te Conheci, mas os trabalhos escolhidos para a noite de abertura foram o curta Roubar um Plano e o média Quando Aqui, ambas criações recentes.
Roubar um Plano, dirigido por André Novais em parceria com Lincoln Péricles, mostra dois trabalhadores que abandonam uma obra e vagam pelo Capão Redondo. Novais apresenta um pouco da geografia da região por meio do trajeto dos personagens – a valorização da travessia é uma das características do seu cinema – e destaca duas periferias: a paulistana, por meio do Capão, mais dura e implacável, e a mineira, por meio de Contagem, mais familiar. De certo modo, Roubar um Plano é um filme sobre a volta para casa e a busca por reconexões pessoais. Vale dizer que Contagem, vizinha a Belo Horizonte, é mais do que uma ambientação nos filmes de Novais. É sua região de origem, personagem fundamental de seu cinema.
Um cinema que prioriza flagrantes do cotidiano de personagens comuns em detrimento de tramas com reviravoltas. Reúne, com frequência, atores não profissionais (muitas vezes, integrantes da própria família do diretor) que costumam transmitir apreciável espontaneidade na contramão do artificial tom de representação. Mas o naturalismo refinado, uma das marcas encontradas nos filmes de André Novais (ainda que esse registro seja eventualmente colocado em suspensão por meio de situações fantásticas), não foi alcançado nas atuações de Roubar um Plano.
Já Quando Aqui se distancia do presente normalmente retratado nos filmes do diretor para abarcar um extensíssimo arco temporal, do passado remoto ao futuro, de modo a destacar o acúmulo de memórias e vivências de diferentes indivíduos que viveram numa mesma casa – ou num mesmo território. Um acúmulo sintetizado nas imagens da sobreposição de tintas numa parede, depositária de todas as camadas. André Novais transita por todos esses tempos, mas sem propor ambientações fidedignas em relação ao passado ou projeções estéticas de futuro. O diretor também aproxima a questão da justaposição de tempos de seu cinema ao incluir, no decorrer desse média-metragem, trechos de seus filmes anteriores, a exemplo do curta Quintal (2015). Nesse sentido, André Novais olha em perspectiva a própria obra.
Vale dizer que o trabalho de André Novais de Oliveira é resultado direto das atividades da produtora mineira Filmes de Plástico – composta, além dele, por Gabriel Martins, Maurílio Martins e Thiago Macêdo Soares – que conquistou espaço sólido no panorama do cinema brasileiro contemporâneo por meio da realização de filmes elogiados e premiados em festivais diversos.
O crítico viajou a convite da organização do festival