Elegante evocação de atmosfera boêmia
Paulo Miklos em Chet Baker – Apenas um Sopro, em cartaz apenas até hoje no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil (Foto: Victor Iemini)
Sérgio Roveri, autor de Chet Baker – Apenas um Sopro, prioriza um recorte em detrimento de uma abordagem totalizante do jazzista mencionado no título. Realça um período específico em sua trajetória, na passagem dos anos 1960 para os 1970, quando Baker retomou a carreira após ser espancado e perder parte dos dentes. Não há, portanto, a intenção de colocar o público diante de uma biografia, de uma enumeração dos principais acontecimentos que marcaram a jornada do artista, de fornecer uma história – pelo menos, no sentido convencional do termo.
Roveri, porém, não delimita apenas uma etapa do percurso de Baker. O autor também valoriza um foco temático: o contraponto entre um jovem baterista, fascinado diante da proximidade com Baker, e músicos tarimbados, mas desgastados pelo tempo, notadamente desiludidos. Os músicos chegam aos poucos ao estúdio de gravação, tratam o baterista de maneira sarcástica, desconcertante, e se mostram preocupados com a possibilidade de Baker não comparecer.
Sintonizado com a proposta da dramaturgia, José Roberto Jardim, diretor do espetáculo que encerra temporada hoje no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), imprime em cena uma atmosfera boêmia que remete, sutilmente, a décadas anteriores. O diretor compõe uma cena elegante, evidenciada na cenografia da Academia de Palhaços (Rodrigo Pocidônio, Paula Hemsi e Laíza Dantas), que ambienta o estúdio no palco (com expressivo destaque do vermelho), nos apropriados figurinos de João Pimenta e na iluminação de Aline Santini, que inunda a cena de dourado, mas investindo em gradações sutis, do intenso ao melancólico.
Atores experientes no terreno da música, Paulo Miklos, Anna Toledo, Jonathas Joba, Piero Damiani e Ladislau Kardos formam um conjunto integrado, sem vícios de representação aparentes, norteados por uma naturalidade construída, distante da coloquialidade banal. Chet Baker é um espetáculo que procura tornar palpável algo abstrato ao fornecer à plateia, de modo oportuno, o sopro de uma época.