A montagem de Conselho de Classe recebeu três indicações ao 26º Prêmio Shell (Foto: Dalton Valério)
A suntuosidade do espetáculo de mercado e a montagem de companhia. “Categorias” simbolizadas, respectivamente, por Elis, a Musical e Conselho de Classe, encenações contempladas, nesse segundo semestre, pelo júri do Prêmio Shell –Ana Achcar, Bia Junqueira, João Madeira, Macksen Luiz e Sergio Fonta –, cada uma com três indicações. Mas essas definições não são suficientes. Apesar de ser legítimo representante do musical de grande porte, Elis é movido, em medida considerável, pela interpretação de Laila Garin, indicada; e Conselho… reúne parte dos integrantes da Companhia dos Atores na direção e no elenco, composto também por convidados.
Elis, a Musical foi lembrado por suas maiores qualidades – atriz, figurinos (de Marília Carneiro), que reconstituem as décadas em que a cantora viveu, e a direção musical (Délia Fischer) –, assim como Conselho de Classe – a dramaturgia (de Jô Bilac), precisa no equilíbrio entre humor e melancolia, a direção (Bel Garcia e Susana Ribeiro) e a cenografia (Aurora dos Campos), que ultrapassou os limites do realismo tradicional ao estender a ambientação para além das bordas do espaço cênico.
Quem tem Medo de Virginia Woolf?, Vênus em Visom e Jim receberam duas indicações. Na nova montagem da peça de Edward Albee, o júri valorizou os atores – os trabalhos minuciosos de Zezé Polessa e Daniel Dantas, que dão vazão a um jogo perverso madrugada adentro. Em relação à montagem do texto de David Ives, sobressaíram a interpretação de Barbara Paz e a boa iluminação de Paulo César Medeiros, que não se restringe à demarcação das transições de planos propostas na dramaturgia. E no que se refere ao musical de bolso que evoca Jim Morrison, as menções recaíram sobre a direção musical (de Ricco Vianna) e a iluminação (Maneco Quinderé), que, inclusive, encerrava o espetáculo em impactante solo.
Seis encenações ganharam uma indicação. Além de Bilac, o júri aprovou os textos de outros dois autores – Julia Spadaccini, dona de produção constante nos últimos tempos, e Rodrigo Portella (indicado como diretor, no primeiro semestre, por Uma História Oficial), que apresentou uma estrutura rigorosa em Antes da Chuva, na qual o modo como se conta é mais relevante do que o tema em si. Aderbal Freire-Filho entrou na disputa como diretor da elogiada tragédia contemporânea Incêndios, de Wajdi Mouawad. Enrique Diaz concorre como ator pelo monólogo Cine Monstro, parte final de uma trilogia formada por textos de Daniel MacIvor, In On It e A Primeira Vista. Joelson Gusson foi reconhecido pelo cuidadoso equilíbrio cromático evidenciado na cenografia de As Horas entre Nós, da Cia. Dragão Voador. E Thanara Schönardie impressionou pela criatividade na sobreposição de tecidos diversos em tons neutros (e com ótimo aproveitamento da cor), valendo destacar ainda a singularidade dos adereços, em A Importância de ser Fiel.
Rebatizada de inovação, a categoria especial do Prêmio Shell trouxe à tona ações que mobilizaram a classe artística, como a revitalização da Sbat promovida por Aderbal Freire-Filho, e o movimento Reage Artista, que surgiu como protesto da classe artística do Rio de Janeiro contra o fechamento dos teatros no início de 2013.
Indicados:
Autor – Jô Bilac (Conselho de Classe), Julia Spadaccini (A Porta da Frente), Rodrigo Portella (Antes da Chuva)
Diretor – Aderbal Freire-Filho (Incêndios), Bel Garcia e Susana Ribeiro (Conselho de Classe)
Ator – Enrique Diaz (Cine Monstro), Daniel Dantas (Quem tem Medo de Virginia Woolf?)
Atriz – Laila Garin (Elis, a Musical), Barbara Paz (Vênus em Visom), Zezé Polessa (Quem tem Medo de Virginia Woolf?)
Cenografia – Joelson Gusson (As Horas entre Nós), Aurora dos Campos (Conselho de Classe)
Figurino – Thanara Schörnadie (A Importância de ser Perfeito), Marília Carneiro (Elis, a Musical)
Iluminação – Maneco Quinderé (Jim), Paulo César Medeiros (Vênus em Visom)
Música – Ricco Vianna (Jim), Délia Fischer (Elis, a Musical)
Inovação – Aderbal Freire-Filho (pela mobilização da classe teatral em busca da recuperação da Sbat – Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), Sede das Cias. (pela dinamização do espaço com proposta de ocupação cênica promovida pelo encontro das companhias dos Atores, Dezequilibrados e Pangeia de Teatro), Reage Artista (pela ampliação e participação dos artistas cariocas no planejamento cultural da cidade)