Um musical explicativo
Cena de Chaplin, o Musical, que fez poucas apresentações no Vivo Rio (Foto: Ricardo Nunes)
Em Chaplin, o Musical – espetáculo dirigido pelo argentino Mariano Detry que fez poucas apresentações no palco do Vivo Rio –, o público encontra elementos frequentes em encenações filiadas à vertente biográfica, a exemplo da dramaturgia convencional (de Christopher Curtis e Thomas Meehan), que fornece um passo a passo didático da trajetória profissional e pessoal do retratado. No caso de Chaplin, o espectador é informado sobre a infância abalada pelo pai explorador, o contato sólido com a mãe, o forte vínculo com o irmão, a descoberta do talento, o ingresso em Hollywood, a instável rotina afetiva tomada por sucessivos casamentos, o ativismo na luta contra o nazismo, a perseguição macarthista que vitimou parte da classe artística, o exílio e a homenagem pública nos últimos anos. Por meio das canções (músicas e letras originais de Curtis, com versão brasileira de Miguel Falabella) dispostas ao longo da montagem, os personagens explicam o que sentem.
O espetáculo começa um tanto mecânico (as cenas de Chaplin com a mãe não são satisfatórias), apesar da constante determinação em manter movimentos concomitantes ao foco principal (os personagens periféricos seguem interagindo, ao invés de esperarem a vez de falar, de modo a fazer com que tudo soe crível ao espectador). A encenação, porém, ganha alguma vida graças, em medida considerável, à interpretação de Jarbas Homem de Mello, que constrói com competência seu Chaplin a partir do já mencionado texto de valor limitado. Também cabe destacar uma caracterização adequadamente envelhecida, que suscita sopro nostálgico, na cenografia de Matt Kinley, que, de início, sugere bastidor teatral, mas acaba servindo às diversas ambientações (como os agitados estúdios de Hollywood) importantes na jornada de Chaplin. O cenário é acrescido de telões que evocam instantes específicos, como a atmosfera da Londres nos primeiros minutos da história.
No decorrer do espetáculo, há momentos simpáticos, como o que Chaplin aparece ensaiando a cena de um filme, cujo resultado é evidenciado logo após através da projeção da sequência correspondente. A sátira a Hitler, realizada em O Grande Ditador, diverte. Os figurinos de Fábio Namatame sobressaem pelos tons discretos imperantes nos atores. As coreografias de Alonso Barros não se revelam particularmente marcantes. Ainda no elenco, Marcello Antony empresta jovialidade a Sydney – o irmão de Chaplin, que influencia nos rumos de sua carreira –, mas compõe de maneira postiça o personagem em idade avançada, ao final. Paulo Goulart Filho imprime autoridade a Mack Sennett, figura que possibilita variações restritas, assim como a vilanesca Hedda Hooper de Paula Capovilla. Giulia Nadruz tem boa presença como Oona O’Neill e Naíma se mostra artificial como Hannah, a mãe. Conforme vem acontecendo com uma parcela significativa dos musicais de grande porte, especialmente aqueles que são controlados por uma equipe do exterior, Chaplin desponta sem muita personalidade, problema que minimiza suas qualidades.