Composições em evidência
Beth Zalcman e Thaís Loureiro em Boa Noite, Mãe (Foto: Hugo Moss)
Em Boa Noite, Mãe, Marsha Norman procura comover o espectador ao colocá-lo diante de um momento definitivo entre mãe e filha numa noite derradeira, quando a segunda informa à primeira sobre a sua determinação em cometer suicídio. O texto – que já foi encenado no Brasil em montagem de Ademar Guerra, com Nicette Bruno e Aracy Balabanian, e ganhou uma adaptação para o cinema, intitulada Noite de Desamor, de Tom Moore, com Anne Bancroft e Sissy Spacek – destaca a desesperança da filha em relação ao futuro e a situação da mãe como refém da filha, decidida a levar adiante o ato extremado.
A encenação de Hugo Moss – que cumpriu temporada na Sede das Cias. e segue agora no Teatro Eva Herz, da Livraria Cultura – é bastante simples e funcional, a julgar pelo cenário, do próprio Moss e de Luna Santos, que realça o nível sócio-econômico de mãe e filha por meio dos móveis da sala da casa de ambas, e dos figurinos, a cargo das duas atrizes (Beth Zalcman e Thaís Loureiro), que sublinham os perfis das personagens. A iluminação de Aurélio de Simoni oscila nos instantes mais intimistas entre mãe e filha, de modo a demarcá-los. Hugo Moss assina uma montagem discreta, de porte reduzido, que não se sobrepõe às interpretações das atrizes, claramente priorizadas.
Beth Zalcman e Thaís Loureiro evidenciam composições físicas – a primeira, no que se refere ao registro vocal da idosa e a segunda, à voz estrangulada, ao olhar que não fixa e a outros vícios corporais. Parece haver uma sobrecarga na caracterização, como se as construções das personagens permanecessem um tanto à mostra diante do público. Essa questão está mais presente no trabalho de Beth Zalcman do que o de Thaís Loureiro, que dimensiona a personagem para além dos sinais externos. Mas, seja como for, as atuações se tornam mais orgânicas à medida que a encenação avança. Boa Noite, Mãe é uma peça sentimental, conduzida com alguma habilidade por Marsha Norman – que sustenta a atenção da plateia em torno do desenlace da situação-base – e concebida como veículo para atrizes.